quarta-feira, 29 de abril de 2020

Fundos de Pensão: as transformações que ocorreriam lentamente na próxima década, vão chegar mais cedo



Credito de Imagem: www.litmos.com


De São Paulo, SP.

Um estudo do McKinsey Global Institute divulgado hoje mostra que 57 milhões de empregos nos EUA serão perdidos com a crise. Isso é o dobro das solicitações de seguro desemprego submetidas até aqui e 25% dos desempregados são de baixa-renda. Nada diferente está ocorrendo aqui no Brasil e em outras partes do mundo.

O vírus pode estar matando os idosos, mas são os jovens abaixo de 35 anos que respondem por metade dos desempregados. Os sem diploma são duas vezes mais vulneráveis do que os com diploma.

Há uma sobreposição entre os empregos que estão desaparecendo por causa da pandemia do COVID-19 e aqueles que seriam perdidos ao longo da próxima década por causa de novas tecnologias e da automação. “A transição que pensamos que levaria anos para acontecer na força de trabalho, de repente se tornou urgente”, diz Susan Lund da McKinsey.

Visto sob outro ângulo, não apenas os empregos perdidos com a crise não serão repostos, como podemos esperar que ainda mais empregos sejam substituídos pela automação nos anos que se seguirão a pandemia. Essa repentina perda de postos de trabalho resultará em empresas menores, com muito menos empregados.

Primeiro ponto: empresas automatizadas precisam de manutenção, mas não de planos de previdência complementar.

Novos paradigmas levarão a novas relações de trabalho

Os impactos nas empresas não param aí. A pandemia forçou mudanças profundas também no ambiente de trabalho físico.

Jes Staley, CEO do Barclay, sugeriu que as grandes sedes mantidas pelas empresas nas regiões mais badaladas das cidades do mundo, simplesmente não serão mais necessárias. “No longo prazo haverá um ajuste sobre a forma que pensamos nossa estratégia de localização ... colocar 7.000 pessoas em um edifício pode ser coisa do passado”, disse ele.

Isoladamente, a substituição do ambiente físico das empresas pelo trabalho remoto causará impacto no mercado imobiliário – tanto corporativo como residencial (morar perto do trabalho ficou sem sentido) – e vai transformar os investimentos dos fundos de pensão nessa classe de ativo.  

Cumulativamente, pode-se inferir que a evolução natural das mudanças físicas no local de trabalho terá desdobramentos que irão acelerar  mudanças de igual magnitude no formato atual de contrato de trabalho.

Os efeitos da crise sobre o mercado de trabalho serão devastadores e deverão perdurar por anos em vários setores. Dentre as seis ideais dadas por Jack Kelly em um artigo da Forbes para quem perdeu o emprego ou está preocupado com a segurança de sua carreira e não quer esperar a guilhotina cair, apenas uma foca no atual emprego. As outras falam em abrir um negócio próprio, aceitar contratos como terceirizado, buscar trabalho remoto, reinventar sua atividade e mudar de cidade.

Segundo ponto: o modelo corporativo de previdência complementar atual se apoia na relação tradicional de trabalho, caracterizada por empregados em tempo integral na folha de pagamentos. Os fundos de pensão atuais, porem, não alcançam empregados dos prestadores de serviço, funcionários das companhias da cadeia de suprimentos nem pessoas com contratos de trabalho intermitente, temporários e com outros formatos.

Corroborando os dois pontos mencionado anteriormente, uma pesquisa da PWC feita com líderes corporativos sobre o mundo pós-COVID-19 mostrou que a crise está acelerando muitas (dis)rupturas e levando as empresas a pensarem de forma diferente:

  • 49% das empresas disseram estar planejando tornar permanente o trabalho remoto para algumas funções;
  • 40% disseram que deverão acelerar a automação e “novas formas de trabalho”;
  • 26% disseram que deverão “reduzir a pegada imobiliária”


Economia do compartilhamento salta do mundo digital para o humano

A “economia do compartilhamento” (sharing economy, em inglês) nasceu no final da primeira década do ano 2000 durante a última crise econômica. Foi idealizada com a visão de que as novas gerações estavam se afastando da aquisição e manutenção de “coisas” e o novo éthos seriam as experiências.

Nessa nova vibe, as pessoas dividiriam com a maior boa vontade seus espaços, veículos, ferramentas e assim economizariam dinheiro para gastar com atividades de lazer e busca de experiências memoráveis.

Isso seria possível graças a aplicativos que dariam acesso a informações sobre a disponibilidade de espaços, veículos e ferramentas, que criariam reputação baseada em avaliações muito “próximas da verdade”, deixando-nos confortáveis para confiar em completos estranhos.

Agora a pandemia do novo coronavírus colocou em situação critica a chamada “economia do compartilhamento” desafiando as premissas básicas sobre o comportamento humano na era digital.

O Uber deverá demitir 20% de seus 2.700 empregados, o AirBnB recorreu a duas operações de empréstimos no começo de abril que totalizam US$ 1 bilhão e a WeWork – que já estava com problema antes da crise – não sabe o que vai acontecer se os clientes não retornarem ao espaço de trabalho. 


O Sars-CoV-2 jogou por terra a aposta dessas empresas. As pessoas estão todas em casa hoje, mas depois da crise provavelmente vão preferir sair com seus próprios carros. Com menos viagens aéreas, haverá pouca demanda por locação de curto-prazo e com a disseminação do home office a demanda por espaço de coworking vai cair.

De certa forma a pandemia abriu a porta para o renascimento das ideias originais que estavam na base da “economia do compartilhamento: a cooperação comunitária e a confiança entre as pessoas. 

Os vizinhos estão emprestando muito açúcar, sal e farinha ultimamente, ainda que estejam apenas deixando-o na porta dos vizinhos. Os mais favorecidos mantiveram o pagamento de empregados domésticos, ainda que os serviços tenham sido interrompidos e jamais venham a ser prestados e as pessoas passaram a adotar medidas não apenas para se proteger, mas também para não infectar o próximo.

Terceiro ponto: tomamos ciência da profunda interdependência que temos uns dos outros e numa sociedade que pensa coletivamente, essa é a essência do mutualismo, pode haver uma luz iluminando o futuro da previdência complementar.

Um soluço momentâneo no aumento da longevidade

A crise econômica que veio grudada na pandemia está afetando fortemente a saúde financeira das pessoas. Há extensos estudos na bibliografia cientifica mostrando a forte correlação entre dificuldades financeiras e problemas de saúde.

Durante um congresso internacional sobre longevidade, do qual estou participando virtualmente, ouvi um pesquisador acadêmico dizer que ao afetar a saúde financeira dos indivíduos, a crise do COVID-19 muito provavelmente terá impacto na longevidade futura.

Quarto ponto: essa inflexão na curva de aumento contínuo na longevidade que o ser humano vem experimentando ao longo das cinco décadas passadas, poderá ser a última.

Nossos fundos de pensão precisam ser ágeis se quisermos nos antecipar às mudanças e o melhor caminho para isso é “Revolucionando os Conselhos”.

Abraço,
Eder.

Fonte: Axios Daily

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