sábado, 10 de dezembro de 2022

A RELATIVIDADE GALILENEANA E A DIFICULDADE DOS CONSELHOS ENTENDEREM A TRANSFORMAÇÃO DOS FUNDOS DE PENSÃO

 



De São Paulo, SP.


A pergunta mais frequente quando Galileu (1564-1642) surgiu com a teoria de que a Terra gira em torno do Sol, foi: “Por que não notamos? Por que não sentimos vento no rosto, por que não ficamos enjoados ao girar a 100.000 km/h na órbita solar?”

A resposta ficou conhecida como Relatividade Galileneana e contém princípios que tem amplas implicações em nossas vidas, muito além da física.

Relatividade é a causa de muitas armadilhas cognitivas e por causa dela cometemos diversos erros de julgamento. Entendê-la, pode nos ajudar a tomar melhores decisões. Pode, também, indicar se estamos realmente alcançando os resultados que pensamos estar.    

Ahhh se os conselheiros dos fundos dos pensão tivessem prestado atenção naquela aula de física da 8ª série do ensino médio! Aquela na qual o professor falou sobre as teorias de Galileo di Vincenzo Bonaulti de Galilei, mais conhecido como Galileu Galilei.

Se o professor tivesse dito que a Relatividade Galileneana pode ser aplicada em praticamente tudo na vida, os futuros conselheiros teriam prestado atenção.

O exemplo clássico para explica-la é aquele de uma pessoa dentro de um trem, segurando uma bola de basquete com as duas mãos.

Se o trem está viajando a 60 km/h, qual a velocidade da bola?


A resposta é: depende!

Se você perguntar para a pessoa segurando bola ela vai dizer: “a bola não está se movendo, a bola está parada nas minhas mãos”

Se você perguntar para uma pessoa do lado de fora, vendo o trem passar, ela vai responder: “a bola está se movendo a 60 km/h”.

Essa analogia ajudou Galileu a explicar a razão de não percebermos o movimento da Terra em volta do sol – estamos na mesma velocidade constante da Terra, nos movendo junto com o planeta.

A Relatividade Galileneana mostra as limitações de nossa percepção e porque devemos estar abertos a outras perspectivas, se quisermos verdadeiramente entender o resultado de nossas ações.

A despeito de sentirmos possuir todas as informações, se estivermos dentro do trem, a pessoa que está fora terá muito mais coisas para compartilhar.

Reis da Inglaterra e Conselheiros de Fundos de Pensão

No começo do Século XIV dois reis da Inglaterra – Eduardo I e II – estavam em conflito constante com a Escócia, que insistia em ser independente.

Não havia uma identidade nacionalista escocesa como hoje, a luta era por causa de terras porque o domínio de vastos territórios era a origem da riqueza e do dinheiro de cobrança de impostos.

Por isso Eduardo I, o Rei da Inglaterra, cujo sistema feudal era mantido por um exército de soldados profissionais pago com terras, queria dominar a Escócia, mas os Escoceses não estavam interessados.

Eduardo I invadiu a Escócia meia dúzia de vezes, mas tudo que conseguiu foi fazer surgir uma identidade Escocesa à parte dos Ingleses. Seu desejo insistente em dominar a Escócia o impediu de perceber que suas ações estavam, fundamentalmente, minando seu próprio objetivo.

O que Eduardo I não se deu conta foi que suas constantes investidas e repetidas invasões da Escócia estavam na verdade, prejudicando a prosperidade e o poder que ele tanto queria aumentar.

As batalhas estavam custando uma montanha de dinheiro, coletado entre os nobres que apoiavam sua monarquia, que por sua vez tinha que ser obtido dos camponeses. As pessoas estavam ficando cansadas de ver seus impostos serem torrados nas guerras com a Escócia.

A autoridade de um Rei ou Governante depende, em última instancia, da lealdade e fé de seu povo. Quando se perde o apoio popular, se perde tudo.

Após a morte de Eduardo I, seu filho Eduardo II - também chamado de Eduardo de Caernarfon - herdou a missão de conquistar a Escócia, que invadiu repetidamente, sem sucesso.


Seu reinado, porém, coincidiu com a Grande Fome que assolou a Europa entre 1315 e 1322. Em decorrência de chuvas torrenciais e frio intenso, acima do normal (as mudanças climáticas do Século XIV), a produção agrícola foi prejudicada por anos, levando a escassez de pão e outros alimentos.

Indiferente ao sofrimento de seu povo, Eduardo II continuou cobrando altos impostos e guerreando com a Escócia. Isso levou a uma insatisfação crescente com seu reinado, desembocando em sua deposição e morte.

Fica a lição e a advertência sobre o que acontece quando se perde a lealdade das pessoas que você está liderando.

Por óbvio que conselheiros de fundos de pensão não serão depostos nem mortos por seus súditos (participantes). Não obstante, a perda de credibilidade dos planos de previdência complementar, caso se mostrem crescentemente incapazes de prover segurança financeira futura para as pessoas, levarão ao enfraquecimento dos fundos de pensão como veículos de poupança de longo prazo.

Taxas de gestão financeira | administração elevadas e retornos dos investimentos limitados, em função de modelos de negócios construídos na era da economia analógica, tornarão cada vez mais difícil juntar a poupança necessária para um futuro tranquilo.

O “expresso” dos fundos de pensão está passando


É importante notar que na Relatividade Galileneana, nem a perspectiva da pessoa dentro do trem, nem a da pessoa fora dele, estão incorretas.

Ambas as perspectivas estão corretas para os observadores. Como a pessoa dentro do trem não possui nenhuma referência externa, ela não está errada ao dizer que a bola está parada e não se movendo a 60 km/h.

Dado os papeis, expectativas e mitologia em torno dos reis e seus reinados, os dois Eduardos estavam agindo em acordo com seus pontos de vista.

A discussão sobre a tentativa de ambos os reis conquistarem a Escócia não tem a ver com suas premissas estarem incorretas. Sob a perspectivas deles, conquistar terras sempre foi uma coisa boa.

Porém, ao deixarem de considerar outras perspectivas, diferentes das deles, eles deixaram de alcançar suas intenções – controlar a Escócia – e mais importante que tudo, foram incapazes de perceber o que estava afetando os resultados que queriam alcançar. Mais terra não pode vir à custa do apoio do povo à sua liderança.

É provável que ao menos um conselheiro tenha dito para os Eduardos: “Ei, talvez você deva gastar um pouco mais de dinheiro para aplacar a fome da população que paga os impostos que te sustentam e dar um tempo nesse troço da Escócia”.

Conselheiros de fundos de pensão, da mesma forma, nem sempre serão capazes de se ajustar a Relatividade Galileneana ao construírem o futuro.

De vez em quando é importante eles saberem que estão dentro do trem e as limitações que isso acarreta e estarem abertos quando alguém fora do trem compartilhar uma perspectiva diferente com eles.

É aqui que se torna tão importante e útil entender a Relatividade Galileneana – não adianta atirar no mensageiro.

Entendeu?


Assinado – O mensageiro.

 


Fonte: Galilean Relativity and the Invasion of Scotland, Brain Food

 

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