sexta-feira, 3 de maio de 2024

DESENHANDO O FUNDO DE PENSĀO DO FUTURO, "NO MORE" AERUS DA VARIG: A ASCENSĀO DA CONTA DE PREVIDÊNCIA DESCENTRALIZADA - PARTE 1/2

 



De Sāo Paulo, SP.


Qualquer um que acompanhe de perto as notícias econômicas sabe o que aconteceu com o fundo de pensāo AERUS, na sequência da falência de sua principal patrocinadora, a VARIG, decretada no dia 10 de agosto de 2010.

Cerca de 10 mil aeronautas e aeroviários recebem, atualmente, valores irrisórios de benefício de previdência complementar, que não condizem com as contribuições que fizeram durante décadas para ter segurança financeira na aposentadoria.

Não vamos entrar no mérito das razões que levaram a liquidação extrajudicial de um dos mais conhecidos fundos de pensão do país – porque esse não é o objetivo desse artigo – mas vamos chamar a atenção para o fato do nosso sistema de previdência complementar continuar sem garantias para os participantes, se e quando casos semelhantes voltarem a acontecer.

Num outro episódio, da economia digital, ocorrido no começo do ano, vimos a prisão de Sam Bankman-Fried (SBF), fundador de uma das maiores corretoras de cryptomoedas do mundo, a FTX, que entrou em colapso em novembro de 2022.

SBF desviou secretamente US$ 10 bilhões do dinheiro de clientes da FTX para outra empresa dele, a Alameda Research, deixando centenas de milhares de clientes a ver navios.

Seja por fraude, incompetência da fiscalização ou inação de órgãos reguladores, as perdas impostas aos participantes quando um fundo de pensão é liquidado ou aos clientes quando um banco quebra, acontecem por uma razão simples:

O patrimônio dos participantes e clientes fica custodiado com instituições do sistema financeiro, não com as próprias pessoas.  

Custódia dos seus investimentos, aí que reside todo o risco


Credito de Imagem: https://missiontrust.com/what-is-securities-custody/


Agora no 1ºTrim-2024 a SEC – Securities and Exchange Commission (a CVM – Comissão de Valores Mobiliários, dos EUA), num movimento que entrou para a história, aprovou a negociação no mercado spot de uma série de ETFs (fundos de índices negociados em bolsas de valores) lastreados em Bitcoin.

BlackRock, Vanguard, Franklin Templeton são exemplos de grandes gestores de investimentos oferecendo ETF de Bitcoin para seus clientes americanos.

No Brasil, as ETFs de Bitcoin e de cyptomoedas como Ethereum, Litecoin e outras, foram aprovados pela CVM em 2021, anos antes da liberação nos EUA e hoje já são 13 negociadas na B3.

A negociação de ETFs de Bitcoin por investidores institucionais é vista como o ponto de inflexão para adoção em massa de cryptomoedas pelo publico em geral, ao fazer convergir o sistema financeiro tradicional com a cryptoeconomia, oferecendo um caminho regulado para investimento nesses ativos.

No entanto, muitos investidores - tanto aqueles com larga experiência no sistema financeiro tradicional quanto os da Web3 - parecem não entender plenamente a diferença chave entre investir em Bitcoin versus investir em ETFs de Bitcoin.

Quando você compra Bitcoin diretamente, através de uma DEX (corretora de cryptomoedas descentralizada) você adquire a propriedade e o controle total sobre seus ativos - sem falar na possibilidade de poder fazer isso aos sábados, domingos, feriados, de madrugada ... e pagar taxas de administração irrisórias.

Mas há algumas desvantagens a serem consideradas:

  • Primeiro: você precisa ter uma carteira digital (wallet) para guardar seus Bitcoins, entender de cryptomoedas e saber como funcionam os blockchains (abaixo como exemplo, uma de minhas wallets, da Metamask); e


  • Segundo (e mais importante): você não pode incluir seus Bitcoins em um plano de previdência complementar tradicional, seja o plano CD de um fundo de pensão ou um PGBL / VGBL de uma seguradora.

Investir em ETFs de Bitcoin, por outro lado, tem certas vantagens. O acesso ao investimento em Bitcoin é muito mais fácil, mais simples, voce nao precisa de uma walllet e tem a segurança dos mercados regulados, tem liquidez e potenciais benefícios tributários.

As principais desvantagens de investir em Bitcoin via ETFs sāo:

  • Você não tem a propriedade, não possui os Bitcoins, eles ficam custodiados com o gestor de investimentos da ETF;
  • As taxas de gestão dos investimentos são altas, os custos operacionais são maiores, você não pode negociar as ETFs fora dos horários de funcionamento dos mercados financeiros e há potenciais tracking erros (medida que mostra se um fundo está aderente ou não ao benchmark)

Mas e se houvesse uma terceira opção? Uma que combinasse os pontos positivos dos Bitcoins serem seus, de estarem na sua carteira digital, de fazerem parte do portfolio de seu plano de previdência complementar individual, com as vantagens e facilidades de investir em ETFs de Bitcoin – ao mesmo tempo em que endereçasse os respectivos pontos negativos das duas alternativas?

Essa terceira opção teria duas enormes vantagens:

(i) seria um ponto de inflexão, ao permitir que a custodia dos investimentos, ou seja, a guarda e proteção dos seus investimentos, estivesse integralmente com você e não com um banco, um fundo de pensão, uma seguradora ou qualquer instituição financeira; e

(ii) permitiriam que você investisse em ativos digitais, tipo cryptomoedas, tendo os benefícios fiscais da previdência complementar.

O desenho do fundo de pensāo do futuro e dos planos de previdência complementar do Século XXI, passam por uma questāo crítica:

A segurança dos seus investimentos e a garantia de que você nāo perderá todo seu patrimônio, caso o gestor dos seus investimentos - seja um fundo de pensāo, um banco, uma seguradora ou uma instituiçāo financeira - venha a quebrar ou ser liquidada.

Na segunda parte desse artigo falaremos da ascensão da Conta Individual de Previdência Descentralizada, explicaremos como funcionarão e porque elas fazem parte da construção do fundo de pensão do futuro.

A Parte 2/2 desse artigo só estará disponível para aqueles que pagam (o preço é de um cafézinho por mês) a assinatura do Canal TECONTEI?, no Substack.

There’s no free lunch, baby! 😎


Grande abraço,

Eder.


Fontes: “A Secure Crypto Exchange?”, escrito por Tom Matsuda


sexta-feira, 26 de abril de 2024

QUER CONSTRUIR O PRIMEIRO FUNDO DE PENSĀO DO FUTURO?

 




👉 Seu primeiro artigo vai ser ruim

👉 Seu primeiro videocast vai ser ruim

👉 Seu primeiro discurso vai ser ruim

👉 Sua primeira apresentaçāo vai ser ruim

👉 Sua primeira transa vai ser ruim.

👉 Sua primeira QUALQUER COISA vai ser ruim


➡ … mas você nāo consegue fazer sua centésima, sem fazer sua primeira.

Entāo, coloque seu ego de lado e comece!


Grande abraço,

Eder.



quarta-feira, 24 de abril de 2024

REFLEXŌES SOBRE A LINHA INVISÍVEL NOS FUNDOS DE PENSĀO, QUE SENTIMOS, MAS NĀO VEMOS

 


De Sāo Paulo, SP.


Estive pensando sobre linhas esses dias – aquelas que você pode ver e as invisíveis, que você só pode sentir.

No livro “Linhas Invisíveis: Fronteiras e Curvas que Definem o Mundo”, o autor Maxim Samson, explora as geografias escondidas e como elas afetam a maneira que nós vivemos e nos movemos nos ambientes físicos.

É uma leitura intrigante, que vai muito além de aspectos geográficos - como o título nos induz a pensar - e provoca uma reflexão poderosa em vários aspectos da vida.

Credito de Imagem: www.amazon.com


Ao invés de focar em fronteiras naturais, como oceanos, rios, florestas e montanhas, Samson fala das fronteiras imateriais, que não conseguimos enxergar, mas cuja presença nos impacta e afeta o modo com que lidamos diariamente com o mundo.

Essas não são linhas visíveis, mesmo assim, conseguimos perceber sua existência, sua presença, conseguimos senti-las. Consciente e subconscientemente, nos comportamos e agimos de acordo com elas.

Andando por qualquer grande cidade você consegue notar, por exemplo, como mudam as características demográficas dos transeuntes de um bairro ara outro, como a arquitetura muda e como muda a linguagem que as pessoas usam.

Essas mudanças sutis podem afetar a direção em que nos movemos espacialmente e podem impactar nossa linguagem corporal.

Podemos escolher determinadas rotas porque achamos que são mais seguras ou mais bonitas - eu prefiro andar pela beira da praia de Copacabana do que pelas ruas internas - ou porque temos um sentimento mais forte de pertencimento a determinado lugar (eu sempre passo pela Rua Barão de Ipanema, onde morei na minha adolescência).

Samson discute linhas culturais, que categorizam as pessoas de maneiras diferentes no espaço geográfico. Identidade desempenha um enorme papel, tanto em termos de como percebemos a nós mesmos, quanto na maneira que os outros nos veem e afeta nosso acesso a certos lugares e serviços.

Um dos exemplos fascinantes que ele cita é a história dos distritos de “redlining” (linhas vermelhas) nos EUA, uma pratica que remonta aos anos 30, quando os bancos, patrocinados pelo governo, codificavam os bairros por cores, de acordo com o risco de credito.


Bairros vermelhos eram habitados por moradores predominantemente negros, enquanto áreas classificadas com verde tinham população majoritariamente branca.

Isso impactava a maneira pela qual o sistema financeiro e seguradoras classificavam o perfil dos consumidores, frequentemente negando empréstimos para as pessoas dos bairros vermelhos.

A prática do redlining foi proibida em 1968, mas seus efeitos persistem até os dias de hoje. Em cidades como Detroit, uma rua divide os bairros ricos e brancos do subúrbio, dos distritos mais pobres ao sul, com moradores predominantemente negros. Como se fosse, conceitualmente, uma fronteira mesmo.

A linha invisível das entidades fechadas de previdência

Na medida em que fui lendo sobre as ideias de Samson, fui correlacionando com as divisōes visíveis e invisíveis construídas nos desenhos dos planos de previdência complementar corporativos, para separar quem e porque, exatamente, é incentivado a poupar para ter um futuro melhor.

Desde o Século XX, quando os fundos de pensão foram regulamentados, vigora a ideia de que as pessoas de renda mais baixa já são atendidas pela previdência social, aquelas que ao se aposentarem receberão praticamente o mesmo salário da ativa na forma de benefício do INSS, por isso, não precisariam de previdência complementar.

Assim, empregados com salários abaixo do teto da previdência social (hoje em torno de cinco salários-mínimos) são deixados de lado pelos fundos de pensão e recebem um valor simbólico dos planos de aposentadoria apenas porque a legislação vincula o incentivo fiscal das empresas a extensão do benefício para todos os empregados.

Está na hora de repensarmos essa ideia pré-concebida, que restringe e divide as pessoas no espaço e no tempo, reforçada pelas linhas traçadas nos desenhos dos planos de previdência complementar.

O efeito dessas linhas é expressivo e deixa uma grande parcela da população a margem dos veículos de poupança para o futuro. Por um bom tempo costumava ser defendida de forma visceral pelos consultores de previdência complementar no mundo todo.

Essa separação implícita e explicita guarda similaridade com o texto de Samson, não por sua crueldade ou discriminação, mas porque essa linha oculta virou uma espécie de borrão fantasmagórico diante da evidência de que a previdência social caminha para a ineficácia para todo espectro de renda e tambem porque depender do Estado deixou de ser a essência de qualquer segurança financeira.

A linha traçada pelos planos de previdência complementar corporativos representa mais um tipo de fronteira invisível no espaço e no tempo – uma fronteira que separa as pessoas em dois tipos, que você pode sentir, perceber, mas não pode ver.

Esta na hora de repensar isso.

Grande abraço,

Eder.


Fonte: “Invisible lines”, escrito por Victoria Powell


segunda-feira, 22 de abril de 2024

VAMOS DESENHAR O FUNDO DE PENSĀO DO FUTURO?

 


De Sāo Paulo, SP.


👉 Começos sempre sāo modestos, mas a ambiçāo é grandiosa. 

👉 Tenho convicçāo de que os blockchains descentralizados se tornarāo nāo apenas as próximas grandes plataformas de computaçāo, mas os pilares de um novo sistema global da previdência complementar, o substrato para desenharmos novas soluçōes que entreguem (de verdade) segurança financeira no futuro, governadas de forma justa e transparente por códigos de programaçāo

👉 A comunidade era chamada inicialmente de crypto (cryptomoedas) - porque os primeiros aplicativos tinham a ver com valor, como o Bitcoin e o Ethereum - mas com a chegada das NFTs em 2020 a parte financeira, o dinheiro digital, tornou-se um subconjunto e as soluçōes ganharam um foco muito mais amplo. 

👉 A comunidade começou a usar o termo Web3 (que nāo é novo) para descrever um movimento tecnológico holístico, com amplas implicações culturais, sociais assim como financeiras, com valores próprios e particulares que permeiam as novas geraçōes, tipo: igualdade, diversidade, inclusāo, transparência, sustentabilidade, justiça social etc.).

👉 A Web3 nāo fornece um conjunto predeterminado de resultados, mas um substrato para moldarmos a previdencia complementar do futuro e isso inclui tokens, NFTs, Aplicaçōes Descentralizadas (dapps), Finanças Descentralizadas (DeFi), Organizaçōes Autônomas Descentralizadas (DAOs), Comunidades etc.

👉 Tudo isso começa aqui - e agora, vamos nessa?


Grande abraço,

Eder.


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