segunda-feira, 21 de outubro de 2019

Você ja sentiu a “Síndrome do Impostor”? Veja como se livrar dela



De Sao Paulo, SP.

Nikolas sempre foi um menino estudioso, terminou o ensino médio aqui em São Paulo como o melhor aluno da turma dele e na formatura ganhou uma placa cromada em reconhecimento à sua “integridade e serviços prestados ao colégio”.

Ao escolher uma universidade, ele optou pela Minerva, uma nova escola localizada no Vale do Silício, em São Francisco – EUA, que não tem salas de aula e quer revolucionar o ensino superior.

Entrar na Minerva é mais difícil do que entrar em Harvard ou no MIT. A cada ano são aprovados 200 alunos num universo de 20.000 candidatos, conforme mostra o gráfico abaixo, publicado numa matéria da Revista Exame em novembro de 2017 (artigo: aqui).

Na primeira ocasião em que minha esposa e eu conversamos com o Nikolas pelo Skype, ele nos disse que os outros alunos eram extremamente inteligentes. Uma colega, nos disse ele, com menos de 20 anos de idade havia criado um projeto de saneamento básico para a vila pobre onde vivia, num pais da Ásia. Outro, havia montado uma startup bem sucedida na área de tecnologia antes mesmo de entrar na faculdade.

Lá pelas tantas o Nikolas ponderou: “deve ter havido algum engano, eu não deveria ter passado nos testes e não deveria estar aqui”. Ele estava sentindo o que a Psicologia Social chama de Síndrome do Impostor.

Muitas pessoas – talvez já tenha até acontecido com você – quando alcançam um alto desempenho podem ter o sentimento de que não pertencem àquela situação. Uma sensação de que deve ter ocorrido um erro no processo de seleção ou um engano na avaliação de suas competências e habilidades. Então, isso logo virá a tona, o erro será descoberto e essas pessoas serão tratadas como fraudes.

Como se deve lidar com a Síndrome do Impostor quando ela surge e o que não se deve fazer? Um estudo publicado no "Journal of Vocational Behavior", de autoria de Richard Gardner, Jeffrey Bednar, Bryan Stewart, James Oldroyd e Joseph Moore, fornece o caminho.

Todos passamos por alguma situação em que nos sentimos uma fraude

Os pesquisadores entrevistaram 20 estudantes com alto desempenho em um curso superior de contabilidade. Perguntaram para os estudantes a frequência com que “se comparavam com os colegas e tinham a sensação de não pertencer ao grupo” e a frequência que “sentiam a necessidade de esconder dos demais que eles eram uma fraude”.

Numa escala de 1 a 10, variando de “nunca me sinto assim” a “sinto isso o tempo todo”, mais da metade dos estudantes de contabilidade estavam acima de 5. Os pesquisadores perguntaram, então, qual estratégia eles usavam para combater a sensação de impostor e se a estratégia funcionava.

A única razão dos pesquisadores terem entrevistado apenas 20 estudantes é que as respostas foram todas iguais e nenhuma estratégia diferente surgiu. Os pesquisadores reconheceram de imediato os pontos comuns entre os estudantes: a maioria havia obtido boas notas no ensino médio e começou a se sentir menos excepcional quando foi aceita por um curso conceitudo, junto com outros alunos inteligentes.

Apesar de nem todos os estudantes do curso estarem se saindo bem, muitos entrevistados achavam que todo mundo estava indo melhor do que eles. “Como vim parar aqui?” Como foram me aceitar? Devo ter escapado da peneira”. Os alunos que sentiam ter sido aceitos por engano, tinham mais dificuldade no curso, como se o sentimento de impostor pesasse sobre seus ombros, tornando mais difícil se saírem bem.

A Síndrome do Impostor pode ser assustadora se ela prejudicar sua performance. Esse sentimento te faz sentir mal no trabalho? O estudo mencionado acima pode te ajudar.

Após entrevistar os 20 estudantes, os pesquisadores entrevistaram outros 200 alunos de contabilidade e chegaram a algumas dicas do que fazer para lidar com o problema.

O que funciona: ajuste sua medida de sucesso

Como resultado das 200 entrevistas, os pesquisadores descobriram que os estudantes que mudaram a forma de medir seu próprio sucesso, sentiram menos pressão. Alguns reviram seus pontos fortes e se convenceram não haver problema nenhum em ter algum ponto fraco. Outros perceberam que não precisavam ser “o melhor” da turma para serem bem sucedidos em suas carreiras no futuro. Conforme um deles disse: “acho que eu só precisava pensar que tudo daria certo. Que eu conseguiria um bom emprego. Que poderia fazer um mestrado mais tarde. Essas coisas diminuíam o desconforto”.

O que também funciona: recorra a pessoas de fora, não de dentro

Outra descoberta dos pesquisadores foi que os estudantes se sentiam pior quando buscavam ajuda de um colega do curso ou da área de contabilidade. Se recorriam a ajuda de familiares, de amigos fora da universidade ou de outras áreas, se sentiam melhor.

“Aqueles fora do grupo social parecem ser capazes de ajudar os estudantes a terem uma visão mais ampla da realidade e recalibrar os grupos de referencia”, comentou Jeffrey Bednar, um dos autores da pesquisa.

Ao buscarem apoio fora do grupo social (área de contabilidade), os estudantes se enxergavam de forma mais holística, amenizando a eventual deficiência em apenas uma área do conhecimento.

O que não funciona: fingir não se sentir um “impostor”

Escapismo ou esconder de si mesmo o sentimento não ajuda a superar a sensação. Quando tentavam mascarar o sentimento jogando vídeo games ou buscando outras formas de distração, isso apenas prejudicava o trabalho que tinham que entregar na escola.

Mesmo quando os entrevistados tentavam esconder seus sentimentos mostrando aos colegas um falso entusiasmo pela sua performance, eles continuavam a se questionar por que estavam se sentindo inferiorizados.

Quanto mais você receber apoio de familiares, amigos e pessoas queridas de fora de seu campo de atuação e ouvir deles que você não é uma fraude, maior será a chance de você creditar em si mesmo.

* * * * * *

Quanto ao Nikolas, bem, ele está no terceiro ano da Minerva. Falamos com ele há alguns dias e ele andava chateado, porque no semestre passado a media dele foi de 3,90 (de um máximo de 4,0) e nesse semestre, que mal começou, a media dele andava em 3,77. “Quero melhorar”, disse ele ... e nós respondemos: “você esta indo muito bem, não precisa ser o melhor”.

Grande abraço,
Eder.



Fonte: Adaptado do artigo “The Best Way to Deal With Impostor Syndrome, According to a New Study”, escrito por Kelsey Donk.

Credito de Imagem: https://www.ssww.com/item/classic-disguise-glasses-and-mustache-pack-NL409/

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