domingo, 8 de março de 2020

O 7º continente, a economia da longevidade e os fundos de pensão 2.0 - Parte 6




PARTE 6


As novas instituições e soluções financeiras na economia da longevidade

Ao longo dos últimos 100 anos as pessoas aposentadas foram, de forma geral, tratadas a margem pelo setor financeiro. Mesmo hoje, os empreendedores que desenvolvem soluções digitais para o sistema financeiro o fazem de olho nas gerações dos jovens.

A turma das fintechs e neobanks tem ignorado as pessoas acima de 60 anos. A “inclusão financeira” dos mais velhos não é foco deles. 

Porem, o contingente demográfico com maior poder de compra e que possui o horizonte de investimentos mais longo é justamente o cidadão do sétimo continente, a geração prata

Quem vai servir esse mercado de US$ 18 trilhões (em 2020)? Como diria meu sogro: “essa tá fácil” (de responder), serão os empreendedores e instituições que perceberem a necessidade de organizar seus negócios de modo diferente, adequando-os a uma população que envelhece e vive cada vez mais. 

Bancos, por exemplo, terão que adaptar seus modelos de negócio e produtos para servirem clientes por um período muito mais longo de tempo. Clientes com idade acima de 100 anos serão cada vez mais comuns daqui a duas décadas. Portanto, a geração prata representa uma parte da equação quando abordamos a economia da longevidade, representam a ótica do cliente.

A outra parte da equação reside exatamente na falta de alternativas de investimentos para atender os objetivos e necessidades dessa geração e por tabela, também das demais gerações. Nesse novo mercado teremos produtos financeiros para pessoas que planejam viver um “tempo extra”, que terão mais anos para acumular riqueza, portanto um horizonte de investimentos muito mais longo e que buscam estabilidade financeira ao longo do caminho. 

Grande parte dos ativos financeiros atuais encontra-se preservada ao invés de investida. Isso acontece porque a prioridade pessoal da maioria dos donos desses ativos é a proteção do seu patrimônio. 

economia da longevidade oferece uma oportunidade inigualável para mudar radicalmente a situação atual através da criação de um mercado prospectivo, com capacidade de crescimento sem precedentes e alinhamento total com o objetivo dos detentores de passaporte do sétimo continente, que contarão com meios para estender suas expectativas de vida de forma financeiramente segura.

Tanto o aposentado mais conservador como os detentores de grandes ativos financeiros buscam setores e alternativas de investimento que entreguem no longo prazo resultados de forma estável e com risco relativamente baixo. 

Exatamente por conta disso, surgirão alternativas de investimentos focadas em longos horizontes de tempo e nas novas tecnologias que estão emergindo em torno da longevidade. As inovações financeiras terão liquidez e facilidade de negociação no mercado e direcionarão recursos para empresas e tecnologias do ecossistema da longevidade como terapia genética, medicina regenerativa, biomarcadores, diagnósticos personalizados, terapias preventivas, biologia do envelhecimento e tantos outras. 

Essas novas alternativas de investimentos servirão de ponte entre as necessidades dos investidores conservadores (geração prata) de um lado e um mercado constituído por novas tecnologias, que busca financiamento para se desenvolver (ecossistema da longevidade), do outro.

Estabelecida essa ponte, serão injetados na economia da longevidade centenas de bilhões de dólares que hoje estão “parados” / preservados no sistema financeiro e nos fundos de pensão. Estima-se que apenas nos primeiros anos serão imediatamente atraídos US$ 500 bilhões pelos novos instrumentos financeiros e num horizonte de cinco anos, serão direcionados trilhões de dólares em investimentos para as empresas do ecossistema da longevidade.

A enorme liquidez que esses investimentos proporcionarão colocará em movimento um ciclo que perpetuará a economia da longevidade. Em outras palavras, os investimentos em empresas que desenvolvem soluções visando tornar a longevidade mais saudável, levará a inovações que beneficiarão a saúde e a vida dos próprios detentores dos ativos, fazendo com que eles queiram investir continuamente nesse ecossistema criando, assim, um ciclo de contínua auto alimentação.  


Bolsa de Valores da Longevidade   

Apesar de haver ao redor do mundo centenas de startups atuando no mercado da longevidade, 99% delas não possuem capital aberto, ou seja, elas não têm ações negociadas em bolsa. Essas startups têm em investidores anjo e fundos de capital de risco sua fonte de capital, como o Softbank japonês que investe em tecnologia.

O financiamento atual das empresas que focam na economia da longevidade e em suas inovações é limitado, está restrito a uma pequena fração do capital disponível no mundo. Isso gera um déficit de financiamento que inibe e atrasa o desenvolvimento de inovações e tecnologias e cria um grande problema de liquidez.

Essa falta de investimentos ameaça o desenvolvimento de inovações puxadas pelas biotechs e healthtechs e os efeitos econômicos prejudiciais impactam principalmente os sistemas governamentais de assistência médica. Além disso, a falta de liquidez dos investimentos atuais impede que fundos de pensão e muitos outros investidores individuais e institucionais atuem no mercado de startups da longevidade. Todos perdem.

O desenvolvimento de uma Bolsa de Valores da Longevidade permitirá a negociação de papeis, títulos e derivativos especializados, atraindo investidores e levando ao aumento na liquidez de empresas da economia da longevidade. Essa liquidez dará maior flexibilidade e permitira o crescimento das organizações listadas na bolsa, contribuindo para o avanço da economia da longevidade. A criação da Bolsa e Valores da Longevidade vai demandar que sejam listadas pelo menos 100 empresas, de forma a criar diversidade e volume suficiente para transações.

Bancos da Longevidade e Soluções AgeTech

O aumento da população mais velha será acompanhado da proliferação de produtos e serviços financeiros, veremos surgir novos tipos de poupança, planos de previdência especializados e planejadores financeiros voltados para aconselhamento da terceira idade.

Veremos novas classes de ativos, novas estratégias de investimentos e o desenvolvimento de títulos e valores mobiliários com vencimento de longuíssimo prazo. Os bancos, sejam eles tradicionais ou “challanger banks”, baseados em soluções AgeTech adaptarão suas infraestruturas para o atendimento de pessoas com mais de 60 anos.

O HSBC, por exemplo, em parceria com a Sociedade de Alzheimer (Alzheimer’s Society) está desenvolvendo produtos amigáveis para pessoas que sofrem de demência. O Barclays está desenvolvendo softwares adequados aos idosos, para que tenham uma experiência de atendimento mais confortável (CX ou Customer Experience).

O aumento na expectativa de vida e uma população de aposentados que não para de crescer criará novas oportunidades para o setor financeiro. Novas instituições financeiras, com produtos e atendimento voltados para pessoas com mais de 60 anos ajudarão a transformar os idosos de uma ameaça global para uma oportunidade global. 

Na sétima e última parte do artigo falaremos dos fundos de pensão 2.0 e seus novos modelos de negócio, fique ligado, acompanhe, questione, comente. 
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Eder C. da Costa e Silva é sócio-gerente e fundador da E.Carva Investimentos & Participações e autor do livro “Revolucionando os Conselhos dos Fundos de Pensão” (ed. PoloBooks, 2020) que será lançado em breve.

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