sexta-feira, 27 de março de 2020

O "Efeito Dunning-Kruger”, COVID-19 e fundos de pensão





De São Paulo, SP.

Em plena luz do dia em 1995 um homem grandalhão e de meia idade roubou dois bancos em Pittsburgh-EUA. Sem máscara ou qualquer disfarce, ainda sorriu para as câmeras de segurança ao sair andando calmamente pelas portas da frente. 

Ao ser preso na noite do mesmo dia e confrontado com imagens mostradas pela polícia, McArthur Wheeler, surpreso, murmurou: “mas eu usei suco de limão ...”.

A polícia concluiu que Wheeler não era maluco nem estava sob o efeito de drogas, ele apenas estava redondamente enganado. Wheeler acreditou que, se o suco de limão é usado para tornar tintas invisíveis, bastaria esfregar suco de limão no corpo e não se aproximar de nenhuma fonte de calor para passar incólume pelas câmeras de vigilância. 

A saga de Wheeler chamou a atenção de David Dunning, Prof. de Psicologia Social da Universidade de Cornell, que junto com Justin Kruger, um de seus alunos de graduação, investigou o que estava acontecendo.
   
Ilusão de Superioridade ou Efeito Dunning-Kruger

Dunning e Kruger bolaram diversas experiências para investigar o fenômeno. Num dos estudos, submeteram um grupo de estudantes de graduação a uma serie de perguntas sobre gramática, logica, piadas e outros assuntos. Ao final, pediram que cada um estimasse seu próprio score e como eles achavam ter se saído em comparação com os demais estudantes.

Os estudantes que se saíram pior, classificados no último quartil, estimaram que suas performances eram melhores do que 2/3 dos demais estudantes. Apesar da correlação entre excesso de confiança e ignorância, Dunning e Kruger mostraram que o fenômeno é universal. Todos nós temos pontos cegos em nossa autoconfiança e apesar disso muitas vezes nos causar constrangimento, faz parte do nosso processo de aprendizagem.
Num dos estudos da Universidade de Cornell, 90% dos participantes alegaram familiaridade com pelo menos um dentre nove termos e conceitos que simplesmente foram inventados pelos pesquisadores.     
As pessoas têm uma visão favorável de suas próprias habilidades em vários domínios sociais e intelectuais, mas avaliam – erroneamente – que tem um conhecimento muito maior do que realmente possuem. É um viés cognitivo e esse efeito foi chamado de “ilusão de confiança”, “ilusão de superioridade” ou “efeito Dunning-Kruger”.   


Impactos do Efeito Dunning-Kruger nos fundos de pensão 
Em plena pandemia causada pelo coronavirus, vemos brotar uma legião de epidemiologistas de poltrona, sem nenhum conhecimento relevante em medicina, repetindo informações sem nenhuma base de conhecimento. 
Aquele cara que colava de você nas aulas de biologia no ensino médio é o que tem mais coisas a falar sobre coronavirus. Puro Efeito Dunning-Kruger. 
O que tudo isso tem a ver com fundos de pensão e a crise do COVID-19? Tudo a ver! Numa pesquisa feita em 2012 nos EUA pela Fundação FINRA - Financial Industry Regulatory Authority (https://www.usfinancialcapability.org) com pessoas que faliram seus negócios, 23% atribuíram a si mesmos o score mais alto possível ao avaliarem seu conhecimento financeiro. 
Lendo esse resultado de outra forma, não é difícil inferir que as escolhas de perfis de investimentos ou de pagamento de rendas adotadas por muitos participantes de fundos de pensão podem ser contaminadas por um subliminar excesso de confiança em conhecimentos financeiros. 
Vários fundos de pensão permitem que os participantes mudem de perfil de investimentos no meio do ano, outros no final do ano, alguns nas duas ocasiões. 
O mesmo vale para a forma de recebimento do benefício. Há planos que permitem ao assistido mudar a forma de pagamento. Por exemplo, alterando o percentual do saldo de contas que recebem por mês ou então o número de anos que definiram para esgotar o saldo de suas contas. Sem falar em outras tantas escolhas embutidas nos atuais desenhos de plano de muitos fundos de pensão.
Os participantes terão que fazer escolhas em algum momento ao longo de 2020. Escolhas fazem parte da vida. 
Seria importante tentar evitar que nossos participantes sejam iludidos em suas escolhas por suas próprias experiências de vida, teorias, fatos, intuições, estratégias, heurística e palpites que, apesar de lhes parecerem conhecimentos uteis e precisos para tomada de decisões, lamentavelmente não os sejam. 
Isso é possível? 
Como saber o que sabemos, o que não sabemos e proteger os participantes?
Em sua obra “Meditations on First Philosophy”, o pensador e filosofo do século XVII, René Descartes, se fez essa mesma pergunta.

Ao ler as palavras que escrevo nesse momento, como você sabe o que elas significam? Como você sabe que sabe o que elas significam? E o que você não sabe que não sabe? Se começar a pensar sobre isso tudo, você vai acabar pirando.

A verdade é que é difícil ter certeza ... sobre qualquer coisa. A essência do conhecimento, do saber, de onde vem, como experimentamos, da diferença entre conhecimento e crença, verdade e palpite, é estudada num ramo da filosofia chamado epistemologia. 

O Efeito Dunning-Kruger tem muito mais a ver com conhecimento do que com inteligência inata e por fazer parte do processo de aprendizado pode ser amenizado.

Os participantes recebem todo ano muitas informações de seus fundos de pensão para permitir melhores decisões sobre perfis de investimentos e formas de recebimento dos benefícios. 

O COVID-19 é fato novo e desconhecido e até os experts tem dificuldade para prever o que vai acontecer. Por isso é importante muita, muita comunicação, grandes doses de orientação e educação financeira permanente e continuada.

Grande abraço,
Eder.


Fonte: Adaptado de textos do Quartz Daily Obsession, escritos por Annaliese Griffin, Holly Ojalvo, Adam Pasick e Corinne Purtill (https://qz.com/emails/quartz-obsession/1824679/?utm_source=email&utm_medium=daily-brief)

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