quinta-feira, 22 de setembro de 2022

SÉRIE - AS PLACAS TECTÔNICAS EMPURRANDO OS FUNDOS DE PENSÃO PARA UMA NOVA CONFIGURAÇÃO | PARTE III: A DISRUPTURA NA FRONTEIRA DOS NEGÓCIOS

 



De São Paulo, SP.


Vamos para a terceira e última parte da série de três artigos nos quais estamos abordando as placas tectônicas que estão se movimentando e empurrando os fundos de pensão para uma nova configuração.

Nos últimos 240 anos passamos por umas cinco revoluções tecnológicas, a mais recente delas iniciada em 1971, provocada pela tecnologia da informação e das telecomunicações, ainda em curso.

Revoluções tecnológicas são processos bem destrutivos, elas definem um novo meio de produzir e de viver, mas a sociedade leva um longo tempo para assimilar as mudanças.

Cada revolução tecnológica traz consigo mudanças de duas naturezas: (i) técno-econômicas; e (ii) sócio-institucionais, com enorme potencial para criação de riqueza, pela transformação da economia, sociedade e instituições.

Surgem novos paradigmas, que mudam a lógica dos negócios, provocando um salto quântico em todos os setores, segmentos e indústrias, com disruptura para todo lado.

Cada revolução traz, também, um realinhamento político, cultural, dos valores e aspirações – sabe o lance das mudanças climáticas, da sustentabilidade, do veganismo, da diversidade & inclusão? Pois é ...

O sucesso vai para aqueles que melhor entendem que algo diferente está acontecendo, se amoldam ao novo potencial, olham e andam para a frente. Esses são os fundos de pensão passando por rebranding, implantando planos família, se movimentando, buscando novos modelos de negócios, como a Vivest (ex-FCESP) e outros.

Mas há também aqueles que se apegam às velhas ideias, aos velhos objetivos, aos velhos valores individuais ou coletivos, que olham sempre para trás e para trás vão ficando. A falha em responder às transformações do mercado pode ser fatal.

Carlota Perez, uma Britânica de origem Venezuelana, professora honorária do Instituto de Inovações e Politicas Publicas da University College London, explica tudo isso no vídeo abaixo (em inglês), fala sobre como as revoluções tecnológicas se sucedem e se sobrepõem – TL;DR o vídeo tem duração de 01:04:48, mas recomendo muito que assistam, mesmo que sua paciência para vídeos longos seja igual à da Gen Z J




Entendendo os ecossistemas de negócios

Nos anos 1930 o botânico Britânico Arthur Tansley introduziu o termo “ecossistema” para descrever uma comunidade de organismos interagindo uns com os outros em seus ambientes: ar, água, terra etc. Para prosperar, esses organismos competem e colaboram uns com os outros em busca dos recursos disponíveis, co-evoluem e se adaptam conjuntamente às disrupturas externas.

Em 1993 o estrategista de gestão James Moore publicou um artigo na Harvard Business Review intitulado “Predators and Prey: A New Ecology of Competition” (Predadores e Presas: A nova Ecologia da Competição) no qual adaptou o conceito biológico fazendo um paralelo com empresas que operam num mundo onde o comercio é cada vez mais interconectado, se adaptando, evoluindo e competindo para sobreviver, algumas vezes indo à extinção. Moore sugeriu que uma empresa não deveria ser vista apenas isoladamente num setor, mas como membro de um ecossistema de negócios abrangendo participantes através de múltiplos setores.


Um ecossistema de negócios hoje é uma rede (network) de organizações – incluindo fornecedores, distribuidores, clientes, competidores, agências governamentais etc. - envolvidas na entrega de um produto ou serviço especifico, através tanto de competição como de colaboração.

A ideia é que cada entidade do ecossistema afeta e é afetada pelas demais, criando uma relação em constante evolução na qual cada entidade precisa ser flexível e adaptável para sobreviver, da mesma forma que nos sistemas biológicos. Ecossistemas criam fortes barreiras de entrada para novos competidores, uma vez que já consiste de players que o fazem funcionar.

Por fim, ecossistemas de negócio demandam um engajamento B2B eficaz e eficiente entre os parceiros porque são multi-stakeholders e business-to-business por natureza. A parceria requer processos digitais, conexão de dados, ferramentas colaborativas e integração de modelos de negócio para vender, fazer marketing e desenvolver soluções conjuntas.

Ecossistema em previdência complementar ou previdência lego

Para ficar fácil de entender, vou dar um exemplo genérico e um especifico.

Em julho passado, minha esposa e eu resolvemos fazer um fondue no fim de semana. Preparamos uma lista de tudo que precisávamos e fomos ao supermercado. Quando entramos, tinha um grande banner com os dizeres: “Inverno Gourmet: Tudo para fondue”.

Embaixo do cartaz, uma mesa enorme com absolutamente tudo para se fazer fondue de carne ou de queijo. Tinha molhos, queijos, carnes, pão, óleo vegetal, vinho, copos, pratos, aparelho de foundue, garfinhos e ... álcool gel.

Putz, álcool gel não estava na nossa lista! Isso implicaria voltar ao mercado para comprar esse item que havíamos esquecido.

Esse é um bom exemplo genérico de ecossistema de soluções, mas vamos a um exemplo simples e especifico.

Imagine que você vai registrar no cartório, seu filho que acabou de nascer. Ao pagar a taxa de registro, lhe oferecem por mais R$ 50 (embutidos na taxa) um plano instituído ou um PGBL que já pode sair no CPF e nome do recém-nascido.

O pai (ou a mãe) orgulhoso, feliz da vida, totalmente bobo, de olho no futuro do nenê, quase certamente vai querer. Ele não foi comprar um plano de previdência complementar, mas sai do cartório com um.

A previdência lego é a incorporação de poupança para a aposentadoria, proteções para riscos de invalidez e morte, na compra de outros produtos, serviços ou plataformas – embutida em um ecossistema de soluções.


Retrospectiva e conclusão:

Chegamos ao fim dessa série de artigos. Como consequência do movimento das placas tectônicas, principalmente das mudanças demográficas, passaremos por grandes mudanças em uma pequena janela de tempo, nos próximos anos.

O poder de compra está se deslocando das gerações mais antigas para as mais novas, a Gen Z e os Millenials. Esses últimos estão naquele momento doce da vida, em que constituíram família e passa a ser importante a compra de uma casa, de poupar para o futuro (seu e dos filhos) de buscar segurança.

A pandemia despertou os Millenials para a necessidade de proteção, o Covid-19 mostrou a importância da segurança financeira, da compra de seguros – vida, saúde – e da poupança via plano de previdência complementar.

Como consumidores, procuram produtos e serviços de prevenção num lugar só, sem fricção, partilhando seus dados em troca. Por isso a importância dos ecossistemas de soluções, eles querem acessar seguros, previdência, saúde e bem-estar no smartphone, da mesma forma que já fazem com pagamentos digitais via Apple Pay, Sansum Pay etc.

Os fundos de pensão precisam mudar, ao invés de “fazer digital”, precisam “ser digitais”, precisam focar na experiência do consumidor, entender o que eles precisam, se preparar para a próxima fase da jornada digital, porque até aqui, não vêm fazendo um bom trabalho para atrair as novas gerações.


Um jovem da Gen Z nos EUA durou apenas um mês trabalhando para uma seguradora. “Não quero trabalhar onde a tecnologia não está”. Quando compram, as novas gerações se preocupam com o proposito e o valor social das marcas, o mesmo quando trabalham para uma empresa.

Os muros que delimitavam as Entidades Fechadas de Previdência começam a ruir e em breve serão destroçados pelas forças do mercado. Eu até brinco que deveríamos passar a chama-las de Entidades Escancaradas de Previdência.

Para manter a escala necessária para sua sobrevivência, a sustentabilidade de longo prazo dos fundos de pensão vai força-los a soltarem as amarras de suas patrocinadoras e atuarem em ecossistemas de soluções.

A previdência lego representa oportunidades de cross sell (venda cruzada) e up sell (agregar valor a compra original), embutindo planos de previdência complementar em outras soluções.

Os bancos e administradoras de cartão de credito, as mídias sociais e mecanismos de busca na Internet, sabem que sua esposa vai ter um bebe antes dele nascer. Os fundos de pensão poderiam fazer parcerias para distribuir seus produtos. Uma vantagem competitiva, um fluxo de receitas adicional, ninguém está fazendo ....

Não é mais o Silvio Santos que vem aí, agora quem vem aí é a previdência lego!


Grande abraço.

Eder. 


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