sábado, 3 de abril de 2010
A profissão de Atuário sob escrutínio
De São José dos Campos, SP.
Há um certo consenso de que actuarius eram escribas responsáveis pela redação das atas que descreviam as sessões do Senado na Roma antiga. Tinham que ser rápidos, por isso usavam sinais no meio da linguagem escrita, para conseguir registrar os debates e discussões em andamento.
Posteriormente, os escreventes que registravam os nascimentos e óbitos também passaram a ser denominados de atuários. A profissão evoluiu na medida em que os registros de morte começaram a ser estudados de forma organizada no século XVII, por pesquisadores que lançaram mão da matemática e da estatística visando melhor compreender as dinâmicas das populações.
Pelo que consta, o cargo de atuário foi criado pela primeira vez em 1775 em Londres, na seguradora “Equitable Life”.
Por ironia do destino, foi exatamente a quebra da Equitable Life que levou o governo do Reino Unido a patrocinar um extenso estudo sobre as razões que levaram a seguradora de vida em grupo mais antiga do mundo a fechar, no ano 2000.
Lorde Penrose foi nomeado para conduzir as investigações sobre as circunstâncias que levaram a quebra e quando seu relatório foi publicado em 2003, apontou uma série de preocupações com a profissão de atuário, já que o CEO (Presidente) da seguradora falida também acumulava o cargo de Atuário Chefe.
Imediatamente, diante de críticas crescentes quanto a situação financeira de seguradoras e fundos de pensão, o governo Britânico apontou Sir Derek Morris para elaborar um estudo independente da profissão atuarial.
O resultado desse estudo foi publicado cinco anos atrás, em março de 2005, no que ficou conhecido como o “Relatório Morris”, em inglês, The Morris Review of the Actuarial Profession. Em suas conclusões, Sir Morris recomendou uma reestruturação completa na governança da profissão, no Reino Unido, sugerindo que:
• A profissão de atuário é extremamente “insular” (fechada) e sem uma interface adequada com as demais, como economistas, demógrafos, contadores etc.
• Muito se espera dos atuários e estes têm feito promessas em excesso;
• A transparência dos conselhos dados pelos atuários é insuficiente;
• As normas profissionais são muito genéricas e os padrões técnicos atuariais excessivamente vagos;
• Há muito corporativismo, os atuários não questionam seus colegas profissionais e os procedimentos disciplinares são sempre reativos.
Recomendou, dentre outras coisas, que:
• A regulação da profissão de atuário deveria ser feita de forma independente, afastando-se da auto-regulamentação;
• O órgão de supervisão dos atuários deveria criar um Conselho de Normatização Atuarial para o estabelecimento de padrões técnicos atuariais, que deveria ser composto em sua maioria por atuários, mas incluir também representantes dos usuários dos serviços atuariais, consumidores e reguladores
• O órgão de supervisão dos atuários deveria fiscalizar a profissão, definir os códigos de ética e conduta, administrar um programa de educação continuada e aplicar punições disciplinares para os eventuais desvios.
Tudo isso nos remete a hoje, 3 de abril de 2010, quando comemoramos aqui no Brasil o “dia do atuário”. Minha profissão tem uma longa história de serviços prestados às sociedades mundo afora, proporcionando avanços através de seu conhecimento técnico específico e expertise crítica em diversas áreas de negócio. Nossa contribuição tem trazido mais conforto para a vida humana.
Os serviços que prestamos está dentre os mais complexos e misteriosos para os não atuários de todas as profissões. Talvez por isso, seja nossa a responsabilidade de avançarmos em direção a um maior esclarecimento e a desmistificação daquilo que fazemos. No mundo de hoje não existe mais espaço para “caixa-preta”, vivemos num tempo em que o conhecimento deve e precisa ser partilhado.
Precisamos agir para evitar problemas e sofrimento para essa mesma sociedade, que já enfrentou as conseqüências de escândalos recentes como inconseqüências na contabilidade corporativa e frouxidão na concessão de créditos imobiliários.
Os riscos para a sociedade, envolvidos no papel do atuário, são de magnitude suficiente para justificar pelo menos um grande debate sobre nossa profissão.
Forte abraço a todos os colegas atuários.
Eder.
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