quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Supercentenários – Vivendo após os 110 anos de idade


Mme Calment

De São Paulo, SP.

Monsieur Andre-François Raffray, um advogado, tinha 43 anos de idade quando comprou o apartamento de Madame Jeanne Louise Calment, uma simpática velinha, então com quase 90 anos de idade, nascida em Arles, no sudoeste da França.

A compra foi negociada através de uma operação conhecida em inglês por “life estate” e em francês por “en viager”, uma mistura de financiamento reverso pelo comprador no qual o vendedor mantém o direito a usufruto vitalício da propriedade.

Eis como funciona a operação:  o comprador interessado, paga ao vendedor - à vista ou em prestações - o valor de mercado do imóvel. Ao fazê-lo, o comprador passa a ser o proprietário legal do imóvel, porém, o vendedor mantém todos os direitos de posse do bem enquanto estiver vivo. Durante esse período, o comprador (proprietário legal) arca com todos os impostos e taxas, podendo vistoriar o imóvel mediante aviso com antecedência. O vendedor (inquilino vitalício) pode continuar ocupando o imóvel ou mesmo alugá-lo, obrigando-se a mantê-lo para que não se desvalorize.



Essa é uma maneira criativa para fazer negócio com idosos que queiram ou precisem do dinheiro representado pelos seus imóveis, mas não possam abrir mão da segurança de ter onde morar até o fim de seus dias. 


Monsieur Raffray combinou pagar pela compra do apartamento, mensalmente, 2.500 francos (cerca de US$ 500) para a Mme. Calment, enquanto ela vivesse. E ela viveu, viveu, viveu ... morrendo em 1997 aos 122 anos de idade. Mme. Calment é considerada até hoje o ser humano, comprovadamente, mais longevo. Monsieur Raffray faleceu aos 77 anos, sem nunca ter ocupado o apartamento. Ele pagou para a simpática velinha, prestações cujo total equivaleriam a cerca de US$ 184.000 (o dobro do valor de mercado do apartamento) e seus herdeiros ainda assumiram a obrigação de continuar pagando as prestações mensais...

“Na vida, às vezes fazemos negócios ruins”, comentou a fumante e apreciadora de patê de foie-gras, Mme. Calment.


IDL – Interntional Database on Longevity
Interessados na longevidade extrema e no limite da vida do ser humano, um grupo de pesquisadores se reuniu em junho do ano 2000 em Rostock - Alemanha e em junho de 2001 em Copenhagen – Dinamarca para criar o IDL – International Database on Longevity.

Um ponto-chave no estudo da longevidade é trabalhar com dados demográficos válidos. Em outras palavras, é preciso comprovar através de documentos a idade do indivíduo, seja com certidão de nascimento ou outros meios oficiais confiáveis.

É compreensível a dificuldade de comprovar a idade de alguém como Mme. Calment, nascida em 21 de fevereiro de 1875, um ano antes de Alexanderr Graham Bell ter patenteado o telefone, 14 anos antes de Alexander Gustave Eiffel ter construído sua torre e que com 13 anos de idade viu Vincent Van Gogh na cidade e comentou: “ele é muito feio, sem graça, mau-educado e doente – eu o perdôo, todos o chamam de loco”.

Jean-Marie Robine, Coordenador do Comitê Científico Executivo do IDL e pesquisador de saúde pública, um bio-cientista como ele se intitula, me explicou que uma questão fundamental no estudo do envelhecimento, concerne à trajetória da mortalidade nas idades mais avançadas:

“No presente, é incerto se a mortalidade humana após a idade de 110 anos está aumentando lentamente, estabilizando, decrescendo vagarosamente ou decrescendo rapidamente. Essa incerteza surge porque nunca foram coletados dados confiáveis sobre o comportamento da mortalidade após os 110 anos”.

Foi por essa razão que um consórcio internacional de pesquisadores estabeleceu o IDL na Universidade de Montpellier – França, um banco de dados internacional que através de um esforço concentrado coleta informações no maior número possível de países sobre os “supercentenários”.

Nota: Um indivíduo que vive até os 100 anos é certamente um centenário. Os pesquisadores do IDL cunharam o termo “supercentenários” (ou supercentenarians) para aqueles que passam dos 110 nos de idade.

O limite da vida da espécie humana
Os primeiros casos documentados de supercentenários surgiram nos anos 60 e a quantidade aumentou de forma constante desde meados dos anos 80. Os dados do IDL mostram que em praticamente 20 anos, de 1980 a 2000, a idade máxima reportada no falecimento, até aqui considerada como o limite da vida humana e vista como uma característica estável de nossa espécie, aumentou em cerca de 10 anos, passando dos 112 para os 122 anos.

A probabilidade anual de se morrer aos 110 anos é próxima a 50% e permanece nesse nível até os 114 anos. Os resultados das pesquisas iniciais do IDL indicam fortemente que a mortalidade não aumenta nas idades mais avançadas. De fato, entre 110 e 115 anos há um platô, isto é, essa probabilidade fica constante. Os dados após os 115 anos são tão esparsos que não permitem conclusões definitivas, mas estudos preliminares sugerem que essa probabilidade pode cair depois da idade de 115.

Pode parecer futilidade, mas a resposta para essa questão tem implicações profundas para o financiamento das aposentadorias, causa impacto nos cônjuges e na família, nas oportunidades de negócio, nos planos de saúde, nas casas de repouso geriátrico, no planejamento financeiro, no mercado de trabalho, enfim, na sociedade como um todo.

Precisamos nos preparar para o aumento da longevidade.


O segredo de Mme. Calment
Os franceses tem suas próprias teorias sobre a longevidade de Madame Calment, notando que ela costumava comer quase 1kg de chocolate por semana, tratava sua pele com azeite de oliva, pedalou sua bicicleta até os 100 anos e só deixou de fumar cinco anos antes de morrer.

A longevidade era algo comum na família dela. O pai viveu até os 93 anos e a mãe até os 86. Mas Jean-Marie Robine, que junto com outros autores escreveu um livro sobre Mme Calment, atribui a longevidade ao espírito calmo da velinha: “Eu acho que ela era uma pessoa fisicamente e biologicamente imune a stress. Certa ocasião ela disse – Se você não pode fazer nada sobre algo, não se preocupe com aquilo”.

Difícil apontar apenas um fator. No entanto, sem dúvida, seu excelente bom humor foi preponderante. Aos 115 anos sua memória começou a falhar, mas ela manteve a pose. Durante uma entrevista, cinco anos antes de morrer, ela respondeu para o repórter: “Quando você tiver 117 anos, veja se conseguirá se lembrar de tudo”. Quando alguém se despedia dizendo “Talvez nos vemos no ano que vem”, ela retrucava: “Não vejo porque não! Você não me parece estar tão ruim assim”....


Forte Abraço,
Eder

Fonte: NKL2

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