De São Paulo, SP.
João da Silva tem hoje 20 anos de idade e olha no espelho num laboratório de realidade virtual da Stanford University. Olhando de volta, do outro lado do espelho, ele vê … João da Silva, aos 68 anos de idade.
Deve ser, no mínimo, esquisito, olhar no espelho hoje e ver como você se parecerá no ano de 2059.
Um choque desses pode ser tudo que as pessoas precisam para fazer “cair a ficha”, levando-as a poupar mais para a aposentadoria.
É nisso que apostam cientistas de computação gráfica, economistas, neurocientistas e psicólogos da Stanford University e de algumas outras universidades nos EUA.
Sim, porque até aqui as soluções tradicionais não tem funcionado a contento. Incentivos tributários embutidos nas políticas públicas? Podem ajudar, mas não resolvem.
Contribuições das empresas em nome dos empregados que se dispõem a poupar? Funcionam menos do que se pensa.
E sobre as intensas campanhas de marketing de seguradoras e bancos, de olho nas taxas de gestão financeira dos planos de previdência complementar? Se dessem certo, não seriam recorrentes.
De acordo com o “Center for Retirement Research” do “Boston College”, 51% das famílias americanas correm o risco de não poder manter o mesmo padrão de vida na aposentadoria (contra 43% em 2004). As estimativas apontam para uma insuficiência na poupança da ordem de US$ 4,2 trilhões. Ou seja, estaria faltando algo como US$ 120 mil por família.
Tem mais. Existe uma lacuna monstruosa entre “vontade” e “ação”. Um estudo de 2008 feito pelo “Michigan Retirement Research Center” mostrou que 1 em cada 5 pessoas mais velhas que disseram estar contribuindo para seu plano de previdência, na verdade não estavam colocando dinheiro algum.
Outro, mostrou que o empregado típico superestima em 79% a quantia que diz estar poupando (reportam contribuições de US$ 2.328 e na realidade creditam US$ 1.300 em seus planos). Ainda, 35% dos trabalhadores que estavam poupando menos do que deveriam, disseram que aumentariam suas contribuições – mas, apenas 1 em 8 de fato elevaram posteriormente suas contribuições.
A economia comportamental concluiu que se as pessoas “sentirem” o futuro hoje, ficarão mais sensíveis aos objetivos financeiros de longo prazo. Com esse objetivo, estão sendo desenvolvidos softwares de morfologia-de-idade que criam, a partir de fotos atuais, um “avatar” do seu futuro “eu” (foto no alto).
É praticamente impossível estimar, com alguma precisão, quais serão seus gostos e necessidades daqui a 30 ou 40 anos. Você não tem como saber hoje quais serão seus futuros desejos e vontades, porque você não conhece o seu futuro eu. O que você vai querer ou precisar quando tiver 65, 70 ou 80 anos de idade? Quem sabe?
O projeto em andamento em Stanford visa fechar a lacuna entre o seu eu presente e o seu futuro eu, sem tornar os jovens avarentos. Ao permitir que pessoas mais novas vejam como se tornarão quando idosas, a realidade-virtual pode transformar seu impulso para gastar agora em um desejo de poupar para o amanhã.
Pesquisadores mostraram que o “Efeito Proteus” leva as pessoas a se tornarem mais sociáveis quando o seu “avatar” (auto-imagem digital) é criado com uma aparência elegante.
Wikipidia: O Deus marinho Proteu aparece na mitologia grega como filho dos titãs Tétis e Oceano, ou ainda de Poseidon. Proteu era o pastor dos rebanhos de Poseidon. Reverenciado como profeta, tinha o dom da premonição e assim atraía o interesse de muitos que queriam saber as artimanhas do poderoso destino. Porém, ele não gosta de contar os acontecimentos vindouros; então, quando algum humano se aproxima, ele foge ou metamorfoseando-se, assume aparências monstruosas e assustadoras. Porém, se o homem for corajoso o bastante para passar por isso, ele lhe conta a verdade. O Efeito Proteus aparece quando um indivíduo se comporta de maneira semelhante a sua própria representação digital, independentemente de como os outros percebem esse indivíduo.
Ver o seu avatar se exercitando no mundo virtual, por outro lado, pode estimulá-lo a adicionar em sua rotina diária, no mundo real, uma hora de exercícios físicos.
Ainda, pessoas cujos avatares fazem o trabalho sujo de cortar uma árvore virtual, usam menos papel depois, ao longo do dia. Se reproduzirem seu avatar com altura (estatura) acima da média, você agirá e negociará com mais confiança.
Mas como o Efeito Proteus pode tornar as pessoas mais inclinadas a poupar para a aposentadoria? “Imagine que você acaba de cortar o cabelo e ficou horrível ou comprou uma roupa incrívelmente bacana. Você já sabe que sua aparência física afeta suas atitudes, suas emoções e seu comportamento, mesmo que você não esteja pensando nisso conscientemente. A mesma coisa ocorre com a realidade virtual, quando você se torna uma pessoa com um corpo ou rosto diferente. As características do seu avatar afetam sua mente”, explica Jeremy Bailenson – Pesquisador de realidade virtual responsável pelo Laboratório de Stanford.
Em uma experiência conduzida por Jeremy, jovens que viram seus avatares envelhecidos disseram que poupariam o dobro daqueles que não viram. Noutra, estudantes com cerca de 21 anos de idade viram avatares de sí mesmos hoje, que sorriam quando eles poupavam mais e ficavam sizudos quando poupavam menos. Então, os avatares de alguns deles foram envelhecidos. Aqueles cujos avatares foram envelhecidos disseram que economizariam 30% a mais do que os que não tiveram os avatares envelhecidos.
As aplicações das pesquisas de Stanford no mundo real são promissoras. “A foto de um empregado pode ser envelhecida-morfologicamente e publicada na seção de benefícios do website da empresa”, sugere Dan Goldstein da London Business School – outro psicólogo que trabalhou no projeto.
“Daí para frente, estaremos apenas a alguns cliques e a poucos minutos de fazer alguém tomar uma decisão com efeitos duradouros, que pode valer milhares (de dólares)”, completa ele. Nenhuma foto seria alterada sem a permissão do próprio empregado, até para minimizar a preocupação das pessoas estarem sendo manipuladas para poupar.
Até o final de 2011 o Allianz Global Investors Center for Behavioral Finance – ligado a um dos maiores gestores de investimentos do mundo - espera aplicar uma versão mais simples da tecnologia em desenvolvimento em Stanford, segundo Cathy Smith, Diretora Adjunta.
A Allianz pretende disponibilizar uma versão grátis do software para planejadores financeiros, que poderão incentivar seus clientes a usá-lo para poupar mais.
O que você acha? Se eu pedisse uma foto sua hoje e daqui a uma semana te mostrasse seu avatar envelhecido-morfologicamente, como você reagiria diante da pergunta:
Você sente alguma coisa diante da possibilidade de acabar sem dinheiro na aposentadoria?
Veja, através do link abaixo, a entrevista de Jason Zweig dada ao Wall Stree Journal. O video dura 4m e 21s.
Forte abraço,
Eder.
Fonte: Adapatado do artigo “Meet Future You> Like What You See?”, escrito por Jason Zweig. Crédito de imagem: F. Martin Ramin for WSJ Online.
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