Série especial de reportagens - Projeto QVO VADIS |
Durante a maior parte da existência humana a expectativa de vida ao nascer oscilou entre 20 e 30 anos, talvez ficando próxima de 24 anos. Na Europa Ocidental a expectativa de vida atingiu 40 anos somente depois do século de 1800 e chegou aos 50 anos apenas após 1900.
Na maioria dos países desenvolvidos a expectativa de vida hoje está acima dos 80 anos. No Brasil, segundo o IBGE, gira em torno de 73 anos.
Uma análise de como varia a chance de uma pessoa sobreviver até os 100 anos, quando a expectativa de vida aumenta de 20 para 80 anos, fornece uma boa perspectiva para explicar o surgimento dos chamados centenários.
Uma pessoa com expectativa de vida de 20 anos tem uma chance em 20 milhões de chegar aos 100 anos de idade.
Quando a expectativa de vida ao nascer pula para 30 anos e depois para 40 anos, essa chance passa a ser respectivamente de uma em 700.000 e de uma em 80.000.
Considerando a taxa atual de mortalidade, nos países em que a expectativa de vida gira em torno de 80 anos, duas em cada 100 pessoas, em média, viverão um século ou mais.
Ou seja, quando a expectativa de vida aumenta quatro vezes, de 20 para 80 anos, a chance de alguém viver 100 anos cresce 400.000 vezes.
Esse salto enorme nas chances de sobrevivência é atribuído largamente ao aumento na probabilidade de um octagenário se tornar um centenário.
Na medida em que a expectativa de vida pula de 20 para 80 anos, a chance de um recem nascido viver até aos 50 anos aumenta 5 vezes. A chance de se sobreviver dos 50 aos 80 anos aumenta 15 vezes. Mas esses aumentos são ofuscados pelo aumento de 5.000 vezes na chance de se sobreviver dos 80 aos 100 anos.
Nas épocas anteriores a 2000 a.C. o número de nascimentos por ano era inferior a 1 milhão. Por volta de 1000 a.C. nasciam anualmente no mundo pouco menos de 10 milhões de crianças. Somente depois de 1970 o número de bebês acrescentado a cada ano à população mundial passou de 100 milhões.
Se a chance de alguém viver até aos 100 anos é de uma em 20 milhões quando a expectativa de vida gira em torno de 20 anos e de uma em 80.000 quando a expectativa de vida é de 40 anos, então os centenários deveriam ser extremamente raros antes da era moderna.
Os centenários continuam uma raridade até nos dias atuais e nas populações modernas com baixas taxas de mortalidade, com uma prevalência estimada entre 50 e 100 indivíduos por milhão.
À menos que exista um segredo da longevidade que tenha permitido a alguns seres humanos transcender as taxas de mortalidade que se aplicavam basicamente a todos os seus contemporâneos, a existência de centenários nos séculos anteriores a era moderna deve mesmo ter sido rara.
O surgimento dos primeiros centenários não é preciso. Alguns pesquisadores estimam que os centenários tenham surgido por volta de 2500 a.C. quando a população mundial girava em torno de 100 milhões de pessoas. Esse surgimento, provavelmente ocorreu, sedundo eles, durante o tempo das grandes civilizações humanas na época dos antigos reinados do Egito e dos Sumérios, na parte sul da Mesopotâmia.
Outros estudiosos, baseados na expectativa de vida durante o período pré-industrial, cuja média oscilava entre 12 e 14 anos para um indivíduo de 50 anos, defendem não ter havido centenários, verdadeiramente, antes dos anos 1800.
Seja como for, as pesquisas de Gerontologia e muitas das políticas de saúde atuais tem sido guiadas pela noção de que o envelhecimento é um processo intrinseco, que não pode ser tratado, que a morte nas idades avançadas é “natural” e pouco pode ser feito para aumentar a sobrevivência dos mais velhos.
Longe de serem fixas, no entanto, as taxas de mortalidade após a idade de 80 anos tem declinado consideravelmente. O surgimento e a proliferação dos centenários ilustra dramaticamente a melhoria nas chances de sobrevivência de octogenários e nonagenários.
Metade das mortes de mulheres e um terço das mortes de homens nos países desenvolvidos ocorrem hoje depois dos 80 anos, mostrando que a plasticidade da sobrevivência nas idades avançadas é de consideravel significância.
Persistindo o ritmo atual de melhoria na sobrevivência das pessoas idosas, será tão provável para uma criança de hoje chegar aos 100 anos como era há oito décadas para um recém-nascido chegar aos 80 anos.
Se as estatísticas apontam para o aumento da sobrevivência entre as idades de 80 e 100 anos como sendo a causa predominante para o aparecimento e disseminação dos centenários, algumas questões bastante interessantes nos vem à mente enquanto olhamos para o futuro:
Qual o comportamento atual da taxa de mortalidade das pessoas com mais de 100 anos e que impacto pode decorrer sobre o limite de vida da espécie humana? O que vem depois dos centenários?
Veja a resposta na próxima parte dessa série!
Grande abraço,
Eder.
Fonte: Adaptado de Monographs on Population Aging, 2 – 1995 - Odense University Press
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