segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Série Os Supercentenários – Parte III : Pistas sobre o “segredo” da longevidade dos supercentenários

Série Especial de Reportagens - Projeto QVO VADIS

O estudo dos supercentenários revela que não existe, aparentemente, nenhum “segredo” da longevidade.

Os supercentenários parecem ser quase tão diversos quanto os indivíduos nas idades mais jovens, a despeito de quase todos serem mulheres, a maioria desfrutar comparativamente de boa saúde até as idades mais avançadas e de nenhum ser grande fumante de cigarros.

A quantidade de supercentenários que não se casou ou que teve poucos filhos parece elevada quando comparada com os padrões de casamento e número de filhos das pessoas que morreram mais jovens.

A teoria evolucionária prevê que deve haver uma troca (trade-off) entre sobrevivência e reprodução. Assim, essa característica dos supercentenários – que precisa ser cuidadosamente verificada e comprovada – pode ser o resultado de genes que reduzem a mortalidade em detrimento da fertilidade.

A genética parece ser um fator importante o que é sugerido, também, pelo fato da longevidade parecer uma caracteristica de família. Entretanto, pode haver fatores não-genéticos associados a família que sejam responsáveis por essa descoberta.

Estudos de gêmeos sugerem que cerca de 25% da variação na duração da vida de adultos podem ser atribuidos a diferenças genéticas entre as pessoas e que esse percentual pode ser ainda maior entre os mais velhos.

Apesar de tudo isso, nenhum gene da longevidade, que diminuisse o processo de envelhecimento, foi até hoje encontrado nas pesquisas. Apenas um gene, ApoE, é reconhecido com certa confiabilidade como sendo, de alguma forma, capaz de aumentar ou diminuir a chance de morte nas idades mais avançadas.

Todos os genes funcionais contribuem para a fertilidade ou para a sobrevivência, de forma que uma variação genética em cada uma das centenas de loci (local fixo num cromossomo onde está localizado determinado gene ou marcador genético) afetariam apenas ligeiramente a chance de alguém viver até os 110 anos de idade.

O nivelamento das taxas de mortalidade entre 110 e 114 anos é provavelmente devido ao equilíbrio entre duas tendências: (1) a deterioração dos indivíduos tende a aumentar com o avanço da idade e (2) os indivíduos mais frágeis em qualquer idade tendem a morrer primeiro, deixando uma população mais robusta de sobreviventes.

Atingir e manter o equilíbrio entre essas duas tendências é algo difícil e seria provavelmente impossível se a taxa de deterioração de um indivíduo para o outro diferisse.

Porém, surpreendentemente, esse equilíbrio nas idades mais avançadas só é plausível se os indivíduos diferirem no seu estado de deterioração de tal forma que alguns comecem a se deterior aos 70 anos e alcancem um grau maior de deterioração aos 80 enquanto outros atinjam esses dois pontos 10 anos mais tarde.

Estudos feitos no Instituo Max Planck de Pesquisas Demográficas e apresentados em um artigo do pesquisador Roger Thatcher em 1999, sugerem que as taxas de mortalidade de todos os seres humanos mais velhos, tanto hoje como no passado, sempre aumentam no mesmo ritmo.

As pessoas com longevidade excepcional parecem atingir as idades mais avançadas, não porque seu organismo se deteriore mais vagarosamente do que os outros, mas sim porque eles atingem as idades maiores em melhores condições de saúde.

Essa hipótese é consistente com a descoberta de que o processo de envelhecimento está sendo simplesmente postergado (jogado para a frente) com o passar do tempo ao invés de estar diminuindo ou sendo desacelerado.

Recentemente foram descobertos defeitos genéticos que aceleram em algumas pessoas o processo de envelhecimento. Um exemplo é a síndrome de Hutchinson-Gilford Progeria, uma condição extremamente rara na qual os aspectos físicos do envelhecimento são tremendamente acelerados. Poucas das crianças afetadas vivem após a idade 13 anos e o defeito genético atinge aproximadamente um em cada 8 milhões de bebês.

Por outro lado, conforme mencionado acima, nenhuma mutação que desacelere o processo de envelhecimento jamais foi descoberta e pode ser que tal mutação não exista ou não seja prevalente nas populações humanas.

Desde 1990, entre 15 e 20 pessoas no mundo todo atingiram ou ultrapassaram a idade de 115 anos, dentre eles o ser humano mais longevo, Madame Jeanne Calment, que chegou aos 122 anos de idade.

A jornada de vida dessas pessoas muito idosas diferem consideravelmente e elas praticamente não possuem características em comum, afora o fato da esmagadora maioria ser mulher (apenas dois são homens), vários fumarem pouco ou não fumarem e de nunca terem sido obesas.

Todos eles parecem ter tido personalidades fortes, mas decididamente não eram personalidades dominantes.

Eles são o exemplo vivo de que é possível viver uma vida muito longa em boa forma.

Apesar dessas pessoas terem envelhecido lentamente, todas se tornaram extremamente frágeis nos seus últimos anos. Suas funções fisiológicas declinaram acentuadamente, especialmente após o 105º aniversário.

Passaram seu último ano em cadeiras de rodas, virtualmente cegas e difíceis de serem ouvidas. Mas não temeram a morte e parecem ter se reconciliado com o fato de que suas vidas terminaria em breve.

Na quarta e última parte da série “Os supercentenários” conheça a vida de Madame Calment, o ser humano mais longevo de todos os tempos!

Grande abraço,
Eder.


Fonte: Adaptado de Demographic Research Monographs, 7 – 2010 - Springer Heidelberg Dordrecht

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