De Sāo Paulo, SP.
A vida toda nos dizem que aposentadoria é uma questão financeira, baseada em equações matemáticas.
Some sua poupança com sua renda, subtraia suas despesas, projete sua expectativa de vida e ... volià – você pode se aposentar a partir de determinada idade.
Parece organizado, racional, controlável, mas o mundo real na funciona de modo organizado. Se você olhar mais de perto, a maioria das pessoas não se aposenta porque batem determinado “número” (idade, poupança).
Elas se aposentam porque batem na parede. Uma última reorganização societária. Uma última redução de quadros. Uma avaliação de performance escrita por um novo gestor que não sabe o que você realmente faz.
A aposentadoria nāo é um número, ela é uma linha vermelha emocional.
A fantasia de se aposentar aos 65
A aposentadoria aos 65 anos de idade é muito mais um fruto da matemática atuarial do INSS do que da capacidade humana de seguir trabalhando.
Na prática, as pessoas começam a pensar em aposentadoria nos seus piores momentos, não nos seus melhores. Ninguém roda um simulador de aposentadoria após um grande projeto ou de uma avaliação acima das expectativas.
Elas fazem simulações depois da quarta reunião inútil do dia ou depois de pedirem que elas “façam mais com menos” pela centésima vez. Esse é o ponto do saco cheio, do cansaço, do esgotamento, do já deu.
No mundo corporativo de hoje – seja num hospital, numa escola ou no agronegócio, esse ponto não é um mero acontecimento, ele faz parte do processo.
Os números não mentem
Os dados mostram o quanto a realidade se distancia da versão matemática da aposentadoria baseada em planilhas.
Números dos EUA também servem para a Terra de Cabral, onde faltam estatísticas e sobram conclusões sem embasamento. Dados do Employee Benefit Research Institute mostram que apenas 28% dos aposentados realmente param de trabalhar quando haviam planejado.
A maioria dos trabalhadores é forçada a sair mais cedo — por demissões, problemas de saúde ou exaustão - 61% dos americanos se aposentam mais cedo do que o esperado.
Isso significa, traduzindo em miúdos, que:
A renda de aposentadoria idealizada pelos panos de previdência complementar nāo é atingida pela maioria das pessoas, que deixam de contribuir muito antes de chegar na idade definida pelo regulamento do plano – o benefício pleno da previdência complementar é, basicamente, uma miragem.
Poucas pessoas de fato chegam na idade “oficial” de aposentadoria normal definida nos planos de previdência complementar corporativos – em torno de 60 a 65 anos, dependendo do plano.
Em vez disso, elas saem do mercado de trabalho mais cedo, independentemente de suas finanças estarem preparadas ou não.
Abençoado por Deus, mas bonito apenas na natureza
A lacuna entre a teoria e as hipóteses atuariais dos fundos de pensão e a realidade é particularmente acentuada no Brasil.
Comparado com a Europa, onde existem programas de proteção social e aposentadoria faseada, os trabalhadores brasileiros são pressionados com mais força e por mais tempo:
França: protestos generalizados ocorrem quando o governo tentou postergar a idade de aposentadoria para além dos 62 anos;
Alemanha: Os trabalhadores podem reduzir as horas de trabalho aos sessenta anos, sem perder a dignidade o salário ou os benefícios;
Holanda: o trabalho de meio período no final da carreira é normalizado, não penalizado;
Brasil: espera-se que os trabalhadores mais velhos trabalhem a plena capacidade até o fim — e quando não conseguem, ficam desprotegidos.
Com base em dados históricos a idade média real de aposentadoria nos fundos de pensão brasileiros gira em torno de 57 a 59 anos - apesar da idade oficial para uma aposentadoria integral pelo INSS ser 65 anos para homens e 62 anos para mulheres, ou seja, vários anos mais tarde.
As pessoas não decidem se aposentar aos 57 ou 59 anos porque planejaram para isso. Elas o fazem porque seus corpos, suas mentes ou seus empregadores decidem por elas.
O preço pago pela antecipaçāo da saída
Há uma crueldade oculta no fato de muitos brasileiros saírem dos seus empregos mais cedo do que esperavam.
Embora a saúde ruim possa forçar a saída, quando se deixa o emprego mais cedo do que o esperado, as finanças não estāo preparadas porque que as pessoas não atingiram a poupança que planejavam.
E como o plano de saúde é atrelado ao vínculo empregatício, a maioria das pessoas fica sem cobertura de assistência médica exatamente no período em que está mais vulnerável. Esse nāo é um problema de planejamento financeiro, é um problema do sistêmico.
Nos países em que a previdência social é mais generosa e o sistema de saúde universal tem capacidade de atender satisfatoriamente toda a população, isso não significa um desastre financeiro. No Brasil, sim.
Quando você é ejetado nesse ponto, você não está apenas deixando seu emprego – você está arriscando sua estabilidade.
Planejamento conta, mas você tem controle limitado
Uma grande percentagem das aposentadorias é abrupta, nāo planejada e com pinceladas de frustração. As pessoas nāo deixam o trabalho, elas são afastadas.
O fim do trabalho nāo chega porque você está financeiramente preparado, mas porque você ultrapassou determinado limite etário ou pela simples exaustão.
Sim, o planejamento financeiro ainda é importante. Ninguém quer ficar sem dinheiro aos 80 anos, mas os dados deixam uma coisa muita clara:
Nem sempre é você que decide a idade da sua aposentadoria. Doenças, demissões, esgotamento profissional, muitas vezes tomam a decisāo por você.
Tudo isso significa que o melhor planejamento para a aposentadoria nāo é ter uma idade única como alvo, mas sim ter flexibilidade.
Um colchão financeiro e margem de manobra suficiente para que - se sua carreira terminar antes do planejado - você não fique à deriva.
Ter poupança suficiente para cobrir os anos que antecederam sua aposentadoria pela Previdência Social e a perda de seu plano de saúde corporativo. Ter adaptabilidade suficiente para sobreviver ao inesperado.
... porque o inesperado é a regra, não a exceção.
A verdadeira idade de aposentadoria
Portanto, esqueça os simuladores e as planilhas que te dizem quando você estará “pronto” para se aposentar. A aposentadoria tem menos a ver com chegar num montante de dinheiro e mais a ver com atingir um limite.
Você saberá que chegou a hora, quando:
O stress de permanecer superar seu salário;
O trabalho parecer estar erodindo sua saúde mais rápido do que o envelhecimento em si;
A ideia de ficar mais um ano parece mais um castigo do que uma oportunidade.
É nesse momento que sair – mesmo com incerteza financeira – te fará sentir mais seguro do que ficar.
O segmento de previdência complementar não gosta dessa verdade porque ela é “inquantificavel”, nāo dá para colocar essas coisas num gráfico nem elas cabem numa planilha de Excel.
Você nāo se aposenta porque um simulador disse que você pode, você se aposenta porque seu corpo, sua mente, sua paciência ou seu empregador dizem: chega.
Por isso que a hora “certa” de se aposentar nāo é aos 60, 65 ou 70. É o dia que você decide que ficar mais um ano custa mais do que ficar mais um dia.
Essa é a verdadeira idade de aposentaria.
Grande abraço,
Eder.
Opiniōes: Todas minhas | Fonte: “Retirement Isn’t a Number — It’s the Day You Finally Say “Screw This”, escrito por Troy Breland.





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