De Sāo Paulo, SP.
Falar em “futuro do trabalho” já virou clichê. A verdade é que esse futuro já chegou e parece que ninguém contou pros fundos de pensão.
Os planos de previdência complementar corporativos continuam estruturados como se estivéssemos nos anos 70: carreira linear, aposentadoria com interrupção súbita do trabalho aos 60 – 65 anos e vida tranquila até o fim.
Só que o mundo mudou radicalmente.
Hoje em dia, ninguém para totalmente de trabalhar. O que acontece na prática é uma redução de ritmo: menos dias por semana, menos horas por dia.
O trabalho não acaba, apenas se transforma.
Um “semi-aposentado” pode, perfeitamente, continuar trabalhando na mesma empresa, com carga horária reduzida ganhando salário pro-rata, enquanto recebe parte proporcional de seu benefício de aposentadoria.
Mas para isso, regras centenárias da previdência complementar corporativa precisariam ser eliminadas dos desenhos de plano dos fundos de pensão
É necessária uma mudança radical na concepção dos planos de previdência complementar corporativa, ancorada nas novas realidades sociais e no comportamento humano, se quisermos proporcionar resultados melhores para os poupadores e progredirmos em direção aos objetivos econômicos dos fundos de pensāo.
Está na hora de abandonarmos estratégias fragmentadas e fortemente baseadas em aspectos financeiros e adotarmos estratégias inclusivas, redesenhando os planos de previdência complementar com mecanismos que estendam o impacto da previdência complementar ao longo de toda a vida das pessoas.
Embora incentivos fiscais, perfis de investimentos com riscos padronizados e campanhas de educação financeira desempenhem seu papel, essas abordagens geralmente atingem apenas os mais engajados financeiramente e só durante uma parte da vida profissional.
Fica para trás a maioria passiva para quem a inércia, a incerteza e as necessidades imediatas de liquidez, dominam a tomada de decisões, simplesmente porque as abordagens atuais são inócuas diante da realidade do trabalho e do emprego do século XXI.
Até mesmo iniciativas bem-intencionadas como a adesão automática causam impacto limitado e desigual, a menos que os planos de previdência complementar corporativos sejam cuidadosamente alinhados com as mudanças sociais, com o “futuro do trabalho” (que já chegou) e com as necessidades/comportamentos individuais dos poupadores.
Se quisermos levar a sério a poupança para a aposentadoria, precisamos ir além e elaborar uma arquitetura que corresponda à forma como a vida profissional realmente se comporta – e não à forma como aqueles que elaboraram os atuais desenhos de plano gostariam que se comportasse.
Isso significa mudarmos da atual arquitetura para desenhos de plano que se desloquem da:
Trava rígida no pagamento das rendas - para uma liquidez condicional, com grande flexibilidade para interromper e voltar a receber pagamentos, bem como aumentar e reduzir o valor da renda mensal em função das circunstâncias de cada momento da vida profissional/pessoal.
Possibilidade de fazer contribuições apenas antes da “aposentadoria” - para possibilidade de se creditar novas contribuições mesmo ao longo da fase de recebimento da renda.
A aposentadoria não pode ser encarada como uma linha reta, só de ida, sem volta. Por que não permitir que o participante comece a receber renda de aposentadoria, possa interrompe-la e voltar a contribuir, retomando o ciclo em momentos diferentes da vida? Uma aposentadoria flexível, em sintonia com a realidade de quem nunca deixa de ser economicamente ativo
Portabilidade condicionada à manifestação do participante - para portabilidade automática da poupança individual, sempre que a pessoa mudar de emprego. Precisamos de um sistema de “tag along previdenciário”, onde a poupança de aposentadoria seja atrelada e siga a pessoa automaticamente sempre que ela mudar de emprego, ao invés de ser ligada à empresa e seu fundo de pensão. Precisamos reconhecer a mobilidade profissional e assegurar que os trabalhadores possam transportar sua poupança até mesmo através das fronteiras, sem custos proibitivos ou obstáculos administrativos. Ter uma poupança de previdência complementar que não acompanha o dono é quase um anacronismo;
Separação estanque entre a fase ativa e o período de aposentadoria - para possibilidade de se estar ativo e aposentado ao mesmo tempo, tipo o “Gato de Schrödinger” (GIF do começo desse artigo);
Educação financeira abstrata - para ferramentas tecnológicas que ressonem emocionalmente com cada individuo;
Exigência de término do vínculo empregatício como requisito de elegibilidade ao benefício - para o reconhecimento de que os múltiplos empregos e vínculos de trabalho são uma extensão natural do vinculo corrente.
O ônus dessas mudanças no desenho dos planos de previdência complementar não deve recair apenas sobre os empregadores:
Fundos de pensāo, intermediários (firmas de consultoria) e instituições públicas devem se mobilizar para criar um ambiente em que a poupança a longo prazo seja o caminho de menor resistência.
Redesenho estrutural, no entanto, por si só é insuficiente, tem que vir com salvaguardas prudenciais robustas, para que os poupadores possam confiar que os produtos em que investem têm boa governança, preços justos e estão sujeitos a mecanismos eficazes de supervisão e reparação.
Resumindo
Se quisermos que a previdência complementar sobreviva e seja relevante, precisamos de um redesenho total dos planos — não alteraçõezinhas cosméticas, mas sim mudanças alinhadas com o comportamento real das pessoas e com a nova lógica do trabalho, que reflitam as evoluções sociais.
Do contrário, como escrevi na semana passada, corremos o risco de sermos a Nokia dos fundos de pensão: não fizemos nada de errado, mas, de repente, ficamos irrelevantes.
Grande abraço,
Eder.
Opiniões: Todas minhas | Fonte: “Pension ‘redesign’ needed to address European retirement savings gaps”, escrito por Sophie Smith.
Disclaimer: Esse artigo foi escrito com uso de IA, baseado em prompts, experiencia profissional e profundo conhecimento de mercado do autor e informações das fontes citadas.




Nenhum comentário:
Postar um comentário