De São Paulo, SP.
O QUE ESTÁ ACONTECENDO:
Num fundo de pensão, a gestão de riscos visa evitar ou mitigar futuros impactos desfavoráveis ou indesejáveis através de melhores decisões no presente, mas os sofisticados modelos usados pelos conselhos deliberativos para tratar os riscos podem ser inúteis se, antes de mais nada, um risco não for identificado. Às vezes o risco é visto, mas não é reconhecido, outras vezes é reconhecido, mas é ignorado (ou considerado aceitável), em alguns casos, ainda, é visto, mas é mal interpretado (ou recalibrado pela autoridade máxima que tem outras prioridades). Há muitas formas pelas quais um conselho pode ficar cego e deixar de enxergar determinado risco, assim como existem vários tipos de deficiência visual. O sucesso de uma boa gestão de riscos depende da acurácia das previsões, da capacidade de se pensar de forma clara num mundo repleto de incertezas, da arte de fazer bons julgamentos e de tomar boas decisões.
POR QUE ISSO É IMPORTANTE:
O “risco de sobrevivência” de um fundo de pensão pode estar escapando ao seu conselho deliberativo pelos seguintes motivos: 1) Miopia | hipermetropia de risco: a ameaça não é vista porque seu possível efeito futuro está além de nossa compreensão ou consideração, a miopia nos impede de ver ao longe e nos faz focar nos riscos presentes que conhecemos ou já vivenciamos. A hipermetropia nos impede de ver o risco por estar tão próximo ou ser imediato, está debaixo do nosso nariz, mas escondido da nossa vista; 2) Negação de risco: o risco não é isto porque os responsáveis por sua definição se recusam a reconhecê-lo. Duas pessoas dificilmente têm a mesma visão de risco, algumas veem o copo1/2 cheio, outras, ½ vazio. O tratamento da negação de risco requer certo nível de honestidade e objetividade, às vezes ausentes naqueles que tem uma agenda oculta; 3) Inércia de risco: “tudo bem, está no nosso radar, podemos lidar com isso”, ocorre quando os sistemas são tão complexos que se confia que o risco pode ser gerenciável, uma certa arrogância impede até que se façam testes de stress; 4) Risco comprometido: geralmente acontece quando há conflito de prioridades dentro da organização, quando o custo de prevenção é alto demais para ser aceito, a probabilidade do risco acontecer acaba sendo reavaliada para justificar um downgrade da sua severidade; 5) Risco mal entendido: alguns riscos não são enxergados por causa da dinâmica do grupo, do ambiente no qual as decisões sobre risco são tomadas, pressão de tempo, hierarquias, politica do poder, pensamento em grupo ou viés cognitivo (existem ao menos 188 deles).
CONCLUSÃO:
O livro “Radical Uncertanty” chama a atenção para a importância do conselho entender o risco que esta tentando gerenciar: é um quebra-cabeça ou é um mistério? O primeiro pode ser resolvido com esforço e informações, mas o segundo sempre será insolúvel. Se o conselho do seu fundo de pensão acha que o risco de sobrevivência é um mistério, vai perder tempo tentando resolver. Eu acho que é um quebra-cabeças...
Grande abraço,
Eder.
Fonte: How 'risk blindness' threatens the effectiveness of board decisions, escrito por Garry Honey.
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