sexta-feira, 2 de outubro de 2020

BOARDS DE STARTUPS E FUNDOS DE PENSÃO: O QUÊ ELES TÊM EM COMUM, QUE PRECISAM MELHORAR

 

Credito de Imagem: https://www.siteware.com.br


De São Paulo, SP.

 

Quando os investidores de uma startup ou os participantes de um fundo de pensão analisam de fora o mundo de suas respectivas organizações, enxergam negócios focados em fazer crescer o retorno de seus investimentos.

 

Imaginam que as jovens startups e os conservadores fundos de pensão são caracterizados pela agilidade de decisão, mente aberta para poder identificar as melhores alternativas na alocação de seus investimentos e um olho sempre no futuro, em função das inovações capazes de mudar seus setores de atuação. 

 

Porém, se tivessem a chance de assistir as reuniões dos conselhos, provavelmente aquilo que imaginavam seria, digamos, .... um pouco diferente.

 

Composição dos conselhos

 

  • Startups: os boards das startups são formados pelos seus fundadores, gestores e investidores, esses últimos, majoritariamente masculinos. Os assuntos nas mesas de reunião giram em torno de crescimento, KPIs e dinheiro. Quando novas rodadas de financiamento terminam, geralmente os novos investidores requerem um assento no conselho, sendo comum conselhos formados apenas por investidores
  • Fundos de pensão: os conselheiros são nomeados pelas patrocinadoras ou eleitos pelos participantes como resultado de processos de indicação que se baseiam em pessoas, não nos conhecimentos, experiências e habilidades necessárias para enfrentar os desafios do momento. Quando um conselheiro nomeado pela patrocinadora precisa sair do conselho, porque deixou a empresa, geralmente entra alguém que estava disponível, não um profissional especializado no setor de previdência.

 

Essa composição parece acontecer nas startups e fundos de pensão em qualquer lugar do mundo, independentemente do tamanho. Onde se espera colegiados caracterizados pela diversidade e guiados por valores, propósitos, ESG e __________ (complete uma característica a vontade), encontra-se investidores e profissionais, em sua maioria capazes e experientes, mas que raramente preenchem os critérios desejáveis para os membros de um conselho: diversidade, independência e relevância.

 

“Independência ou morte”




  •  Startups: seja no Vale do Silício, na Ásia, na América Latina ou na Europa, membros independentes nos conselhos de startups são uma exceção. Uma Pesquisa Australiana mostra que apenas ¼ das startups conta com membros independentes em seus conselhos
  • Fundos de pensão: nos fundos de pensão brasileiros praticamente não há conselhos deliberativos que contem com membros independentes. Nos fundos patrocinados pelo setor publico, sujeitos a Lei Complementar nº 108/2001, a lei inclusive impede que os colegiados contem com conselheiros independentes. Isso porque a lei exige que as cadeiras dos conselhos sejam ocupadas por participantes dos planos, o que simplesmente tira qualquer possiblidade de independência.

 

Por definição, os membros do conselho de uma empresa e isso não deveria ser diferente nos fundos de pensão, deveriam atuar no melhor interesse dessas organizações. Porém, frequentemente, os investidores sentados em torno da mesa do conselho de uma startup estão pensando no retorno do seu investimento enquanto os conselheiros dos fundos de pensão priorizam os interesses da parte que os nomeou (patrocinadoras ou participantes).

 

Independência é vital para aprofundar as perspectivas, contribuir com pensamento crítico e adicionar novas visões sobre a maneira de enfrentar os desafios. Independência permite, também, uma melhor resolução de conflitos, construção de pontes e o mais importante, agrega pontos de vista diversos.  

 

Conselhos que contem com um equilíbrio correto entre expertise, conhecimentos e experiências, conseguem enfrentar melhor seus desafios, fornecem acesso mais amplo a uma rede global de informações e ajudam a construir startups e fundos de pensão de alta performance.

 

Livre-se dos seus pontos cegos incorporando diversidade e independência

 

Já está provado que incorporar opiniões diversas e independentes a um colegiado é o melhor remédio contra decisões enviesadas e tomadas de forma excessivamente rápida. Diversidade não tem a ver apenas com gênero, vai muito além, abrangendo idade, etnia, formação, experiência, indústria de atuação, orientação sexual e foca em tópicos.

 

A maioria dos boards das startups e dos fundos de pensão conta com poucas mulheres e falha logo no primeiro item de diversidade, a despeito do impacto que isso produz sobre a performance financeira da organização.

 

O “ingrediente” secreto para revolucionar um conselho é a diversidade de opiniões e visões. Contar com grande variedade de vozes ao redor da mesa, que reflitam os objetivos estratégicos da organização e com um espectro diverso de consumidores e stakeholders é o único caminho para o sucesso.

 

Componha o seu board com pessoas de diferentes formações, experiências e conhecimentos e com um foco diferente, como por exemplo, ESG. Conselhos compostos por membros diversos e independentes, comprovadamente, produzem resultados otimizados, que agregam valor de modos que vão além do financeiro.

 

Startups com conselhos profissionais são mais capazes de atrair investidores e fundos de pensão com membros independentes em seus conselhos terão mais facilidade para enxergar o futuro através de lentes diferentes daquela da patrocinadora. 

 

Ambos os casos se beneficiarão: da atração de talentos, contarão com uma bussola calibrada em direção a propósito-valor, de maior resiliência à crises e mitigação da insegurança sobre o futuro, característica dos ambientes de startups e fundos de pensão. 

 

Fases diferentes demandam conselhos diferentes 

 

Quem dá o tom é o conselho. Se você está criando uma startup ou um fundo de pensão - neste último caso vamos ver com mais frequência daqui pra frente -  concentre sua atenção, desde o início, na composição do conselho.

 

Faça conexões com os melhores profissionais do setor e identifique pessoas inspiradoras, juntar-se ao conselho da sua startup ou do seu fundo de pensão pode ser tão interessante para o conselheiro quanto para a organização.


  • Startups: limite os assentos para investidores e coloque mais ênfase em ter membros independentes. Em um conselho com cinco assentos, um deveria ser ocupado pelo fundador, outro por um representante dos investidores e três por membros independentes. Na medida em que a startup vai passando por sucessivas rodadas de financiamento, os requisitos de composição do board mudam. Cada fase do negócio tem desafios próprios requerendo membros diferentes para o colegiado. Isso deve ser previsto de antemão no estatuto para evitar a “fulanização” das mudanças
  • Fundos de pensão: o ideal seria haver um acordo entre participantes e patrocinadoras para indicação dos membros independentes. Porém, diante de empecilhos impostos pela legislação que requer a eleição dos representantes dos participantes, os membros independentes terão que ocupar cadeiras de representantes das patrocinadoras. Se for o caso, considere o aumento do número total de assentos para poder acomodar os independentes.

 

Cuide para que sempre tenha um conselho profissional. Assegure-se que os membros do conselho entendam claramente seu papel e a divisão de responsabilidade. Conselhos supervisionam, quem executa é a diretoria. Em inglês há um termo bastante conhecido para ilustrar essa segregação de papéis: “nose-in, hands-out” ou seja, “meter-o-nariz, sem meter as mãos”.



Conte com conselheiros engajados com seu segmento de atuação, tragam empatia e profissionalismo. Tenha certeza de que os conselheiros refletem o estágio de desenvolvimento da organização – ou melhor ainda, com o próximo estágio de desenvolvimento. Principalmente no caso dos fundos de pensão, cujo modelo de negócios está em franca transformação.

 

Não busque potenciais conselheiros somente no seu próprio ecossistema, você já tem conhecimento do seu setor de atuação. Idealmente, misture membros que já tenham sentado em conselhos de outras startups ou fundos de pensão e conheçam seu setor, com membros independentes e mente aberta, capazes de enxergar o futuro sem as limitações de segmentos específicos. 

 

Também, conte com alguns conselheiros ou pelo menos com o presidente do conselho, com experiência em governança corporativa, para a magica poder acontecer. 

 

* * * * * *

Por fim, não deixe de investir no desenvolvimento dos membros do conselho e reserve recursos para remunerar os membros do conselho, mostrando que sua organização valoriza o trabalho deles. A ênfase deve ser no benefício mútuo, uma transferência de conhecimento nos diversos estágios de desenvolvimento da startup ou do fundo de pensão.

 

Nas startups e fundos de pensão que não contam com membros independentes, nunca é tarde para começar. Discuta o assunto abertamente no atual conselho. Uma alternativa pode ser a criação de um conselho consultivo, conhecido em inglês por “advisory board”, bastante comum em empresas familiares.

 

Transparência e boa governança atraem capital para startups e agregam valor muito maior para fundos de pensão. Pense nisso com carinho se quiser Revolucionar seu Conselho.

 

Grande abraço,

Eder.


 

Fonte: Adaptado do artigo "Why you probably need to shake up your startup's board", escrito por Aline Eibl 

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