terça-feira, 5 de outubro de 2021

OS FUNDOS DE PENSÃO E O FIM DA ERA DO DINHEIRO VIVO

 


De São Paulo, SP.


INTRO



Apenas pra dar o clima, coloquei como introdução desse artigo o video clip abaixo com a musica do Eumir Deodato chamada "Assim Falou Zaratustra", tema do filme 2001: Uma Odisseia no Espaço que marcou muito minha adolescência nos anos 70.


Nota: Also sprach Zarathustra, em alemão, é um poema sinfônico do compositor Richard Strauss, inspirado no tratado filosófico de mesmo nome de Friedrich Nietzche. O próprio Strauss regeu a estreia na cidade de Frankfurt em 27 de novembro de 1896. A introdução tornou-se muito conhecida por ter sido usada como tema musical no filme 2001: Uma Odisseia no Espaço produzido em 1968 por Stanley Kubrick em parceria com Arthur C. Clark.


* * * *

Vivemos um momento extraordinário na história humana. Fatos e informações estão disponíveis instantaneamente, no momento em que acontecem, chegando ao nosso conhecimento através de dispositivos moveis que nos deixam conectados 24 horas por dia, 7 dias por semana.

Tecnologias e conhecimentos, tipo inteligência artificial, blockchain, impressoras 3D e ativos digitais, antes ao alcance apenas da elite, grandes empresas e governos, são hoje acessíveis a todos e estão ao alcance do cidadão comum.

Através do Google uma criança na Somália pode acessar a mesmíssima informação que o dono do Facebook, o Mark Zukerberg. Por meio de plataformas como o Zoom um camarada no Saara pode falar por vídeo com alguém no Brasil, sem pagar nada, tudo de graça.

O camelô que mora em uma favela no Rio de Janeiro pode enviar cryptomoedas para alguém no sertão de Pernambuco a um custo de meros R$ 0,80, por meio de uma carteira digital no seu celular, mesmo sem ter acesso a uma conta bancária. Também pode investir em cryptos e ter retorno financeiro mesmo sobre valores ínfimos ou pagar com elas por compras feitas pela Internet em qualquer lugar do mundo.


Ser protagonista para não ser vítima

O que tornou tudo isso possível foi o salto que demos do mundo real para o universo digital e que está agora na iminência de transformar por completo o significado do dinheiro na sociedade moderna.

Isso ocorrerá nos próximos dois a três anos com a digitalização da moeda e na sequência, de todos os demais ativos e bens.

Administradores de planos de previdência complementar, como seguradoras e fundos de pensão, tendem a deixar de oferecer um produto delimitado por fronteiras muito bem definidas e hoje confinado entre “quatro paredes”, para passar a oferecer serviços de segurança financeira para qualquer indivíduo ou família, independentemente do extrato social a que pertença.

O processo que vai abrir um mundo de possibilidades para a previdência complementar é o mesmo que vem provocando disruptura em praticamente todos os segmentos de negócios e setores da economia, alcançados pela transformação digital.

Esse processo acontece em seis passos, conforme muito bem definido por Peter Diamandis da Singularity University e são os seguintes:




1. Digitalização

Tudo que pode ser digitalizado entra no mesmo caminho de crescimento exponencial que aquele experimentado pela evolução dos computadores. As informações digitais são fáceis de acessar, distribuir e compartilhar. Uma vez que algo possa ser representado em bits e bytes, zeros e uns, passa a se espalhar na velocidade da luz pela Internet, sejam músicas, filmes, arte, biotecnologia ... ou planos de previdência complementar. Esse primeiro passo que fundos de pensão e seguradoras estão prestes a dar será provocado pela digitalização do dinheiro, que levará a previdência complementar a experimentar um boom de novas classes de investimentos, canais de distribuição e formato. A fragmentação dos ativos digitais permitirá a personalização dos investimentos, levando a poupança de curto e longo prazo a experimentar um crescimento exponencial através da massificação e tornando a previdência complementar um serviço baseado na tecnologia da informação. Isso alcançará pela primeira vez na história o enorme contingente de pessoas da economia informal, que se encontra hoje à margem da poupança de longo prazo e do sistema financeiro tradicional.


2. Decepção

A digitalização dos ativos reais acontecerá devagar no início, como ocorre com tudo que é digitalizado. O crescimento lento no primeiro momento, que é próprio de qualquer evolução exponencial, causa uma certa decepção. A progressão acontece de 2 para 4, depois para 16 e assim por diante, mas antes que você perceba, alcance a casa dos milhões. Veja a comparação de uma progressão linear com uma exponencial na figura abaixo. Aqueles que não perceberem o horizonte de tempo do que está por vir, achando que o ritmo da evolução será lento o suficiente para permitir uma transformação vagarosa do modelo de negócios da previdência complementar, serão atropelados pela velocidade das mudanças.




3. Disrupção

O mercado atual de produtos e serviços de previdência complementar entrará em colisão com um novo mercado, porque as inovações criadas pelas tecnologias digitais superam exponencialmente em eficácia e custo as soluções existentes. Se você pode ouvir música no seu celular em qualquer lugar que tenha acesso a Internet, por que comprar um CD? Se pode assinar um serviço de streaming de filmes e assisti-los em qualquer SmarTV ou Smartphone, em qualquer lugar com WiFi, por que pagar por uma assinatura de TV a cabo ou satélite que só pode assistir na sua casa? Então imagine o que vai acontecer com os planos de previdência e contas bancárias! A tecnologia das câmeras digitais foi criado em 1973 por Seteven Sasson, um engenheiro da Kodak, mas foi rejeitada pela diretoria porque era um trambolho com resolução de apenas 0,01 mega pixels. A falta de visão custou caro para a empresa, que quebrou. Enquanto isso, surgiram startups como o Instagram, criado em outubro de 2010 e vendido em 2012 (apenas dois anos!!!) para o Facebook por US$ 1 bilhão com apenas 13 funcionários.




4. Desmonetização

Na medida que uma tecnologia se torna barata, o dinheiro passa a ser removido da equação até o ponto em que ela se torna grátis. Softwares | programas são mais baratos de produzir do que hardware | equipamentos e suas cópias não custam virtualmente nada. Somos capazes de baixar aplicativos | apps em nossos celulares e acessar toneladas de informações, serviços e entretenimento a um custo que tende a zero. É isso que vai acontecer com a gestão de investimentos e administração de planos de previdência complementar, forçando uma monumental transformação do atual modelo de negócios e das fontes de receita da previdência complementar.


5. Desmaterialização

A tecnologia digital tende a separar produtos físicos de soluções oferecidas. Câmeras, GPS, filmadoras, rádios, estão hoje todos dentro do smartphone que cabe no seu bolso. Na economia digital você não vai precisar de um caixa eletrônico para tirar dinheiro e muito menos de um computador para acessar sua conta de previdência complementar. Ah, também não vai mais ter problema com troco nem ter que carregar moedas no bolso. Arte, imóveis, bens e direitos, tudo, absolutamente tudo, tenha ou não valor, seja um título publico ou direitos autorais de uma musica, estará representado no mundo digital, muito provavelmente em redes publicas ou privadas de blockchain.


6. Democratização

Uma vez que algo é digitalizado, mais pessoas passam a ter acesso a ela. Planos de previdência e bancos passam a se acessíveis a todos quando você pode acessar sua carteira digital no celular e com ela é capaz de investir, resgatar, poupar, pegar empréstimos, pagar contas ou transferir dinheiro P2P em qualquer dia da semana, em qualquer hora do dia ou da noite, para qualquer lugar do mundo, pagando R$ 0,80 por operação. Serviços financeiros e previdência complementar deixam de ser uma prerrogativa de pessoas com mais recursos e ficam ao alcance do “povão”, onde sempre deveriam ter estado.


* * * * * *


Um mundo em rápida transformação

De acordo com John Chambers, ex-CEO da Cisco, 40% das 500 maiores empresas americanas listadas pela Revista Forbes desapareceram ate 2027. Não precisamos nem ir tão longe. Em 1968 o IBOVESPA era composto por 27 ações. Em 2018, passados 50 anos, o IBOVESPA era composto por 67 papeis, apenas 3 nunca haviam deixado o índice: Vale, Souza Cruz e Ambev. A figura abaixo nos da uma ideia do tempo de vida medio das empresas, que era de 60 anos em 1950 e está projetado para meros 7 anos em 2025.




O WhatsApp surgiu em 2009 em uma salinha no Vale do Silício, na California-EUA. Em menos de 5 anos foi vendida para o Facebook por US$ 29 bilhões, tinha apenas 55 funcionários. As grandes empresas de Telecom não viram isso, nem perceberam o que estava chegando, estavam muito ocupadas, brigando por DDI ...

A redução drástica nos últimos anos na quantidade de fundos de pensão e seguradoras, corretoras de seguros e empresas de consultoria em atuária, benefícios e capital humano, nos envia um sinal inequívoco das transformações sem precedentes que estamos prestes a ver não só nos segmentos de seguros e previdencia complementar, mas no mundo corporativo.

Prever o que vem pela frente nunca é fácil, porque o futuro sempre vem embrulhado no passado (foto no titulo desse artigo). Lembre-se disso quando quiser imaginar como pode ser o futuro da previdência complementar, dos planos de aposentadoria, dos fundos de pensão e das empresas em geral e livre-se de velhas ideias. O futuro pode ser bem diferente do passado ...


Grande abraço,

Eder.



Fonte: Adaptado do artigo "Your Roadmap for Leading Disruptive Change", escrito por Peter Diamandis e da apresentação "O atuário e a nova economia" que fiz em setembro/2019 para os alunos de gradução da UNIFESP.


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