De São Paulo, SP.
O QUE ESTÁ ACONTECENDO:
Nos conselhos deliberativos dos fundos de pensão há muitos indivíduos talentosos, mas também tem gente que só está lá para preencher uma cadeira. A única coisa que eles têm em comum é que nenhum membro dos dois grupos é oriundo de profissionais de carreia do setor de previdência, num momento de crise existencial do modelo de planos corporativos. Isso cria um vácuo de liderança estratégica exatamente na hora em que se busca a sobrevivência dessas organizações de previdência complementar, colocando em xeque a sustentabilidade do sistema.
POR QUE ISSO É IMPORTANTE:
Sim, a maioria dos conselhos deliberativos já percebeu que a disruptura avança lentamente - como mostra o declínio na quantidade de fundos de pensão - por isso movimentos de “rebranding”, implantação de planos família e atração de planos de estados e municípios cresceram exponencialmente nos últimos dois anos. Só que isso está longe de imprimir mudanças na velocidade necessária, porque em previdência tudo acontece devagar, com resultados aparecendo somente no longo prazo, se o tempo permitir. Os planos existentes, por exemplo, o legado que compõe uns 90% do setor, não mudaram seus regulamentos e continuam com o autopatrocinio, o BPD e os demais mecanismos de funcionamento desalinhados da realidade de operadoras de planos de previdência mais abertos. Os conselhos não adaptaram sua governança para essa estratégia, então vemos fundo multipatrocinado com uma (isso mesmo, uma!) reunião ordinária do conselho deliberativo por ano e membros representando as patrocinadoras, mas não “a família” dos participantes. Uma pesquisa na Inglaterra - Trafalgar House’s Trust and Confidence Index 2021 - mostra falta de confiança geral no setor de previdência complementar: 58,4% das pessoas colocam mais fé em seus próprios processos decisórios e escolha do provedor de previdência; 69,8% dos participantes de planos de previdência acham ter ligeiramente menos ou muito menos que o necessario para se aposentar confortavelmente com apenas 9,3% achando ter mais do que o suficiente. Os participantes também mostram grande desconhecimento de seus planos de previdência: 53,5% não ouviram falar de renda vitalícia e 34,1% (mais de 1/3) nunca ouviram falar de 7 dos 10 termos mais comuns e fundamentais nos planos de previdência como adesão automática e outros.
CONCLUSÃO:
A falta de compreensão e de engajamento dos participantes com seus planos de previdência afeta negativamente sua segurança financeira futura. Isso compromete o dever fiduciário que fundos de pensão têm de dar apoio à formação de poupança previdenciária de seus membros. Se acontece com os atuais participantes é sinal de que a batalha para atrair novos “clientes” tem tudo para desandar. Liderança estratégica não pode ser exercida sem conhecimento e vivencia profundos do setor e requer visão de futuro, da mesma forma que um móvel antigo requer tempo para existir, não adianta dar umas pinceladas para o móvel parecer uma antiguidade.
Grande abraço,
Eder.
Fonte: Survey finds 'overall lack of trust' in the pensions industry, escrito por Benjamin Mercer
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