De São Paulo,SP.
O QUE ESTÁ ACONTECENDO:
Corriam os anos 90, eu tinha lá meus trinta e poucos anos de idade e ocupava a posição de CEO no fundo de pensão de uma multinacional de autopeças. Um belo dia – até hoje não sei quem teve a ideia - me convidaram para integrar um pequeno grupo de “think tanks” (grupo de reflexão) que iria conversar com Olivia S. Mitchel, professora de Business Economics & Public Policies e de Insurance & Risk Management da Wharton School - Universidade da Pensilvânia. Olivia, que estava de passagem por São Paulo e também é diretora executiva do Pension Research Council, tem um currículo acadêmico invejável, que vai de Cabo Froward no extremo sul do Chile ao Point Barrow no extremo norte do Alasca. Além de americana raiz, ela conhece como ninguém o mundo dos fundos de pensão.
POR QUE ISSO É IMPORTANTE:
Lá fui eu matutando quais assuntos seriam abordados na conversa. O grupo era bem pequeno, Olivia, seis outras pessoas do calibre do EBA - Eduardo Bom Angelo (ex-CEO da Brasilprev, ex-CEO da Cigna, conselheiro da Endeavor...) e eu. Foi basicamente uma grande troca de ideias, sem uma ordem definida para quem falava e quem ouvia. A certa altura, resolvi fazer uma pergunta - tem que parecer inteligente nessas horas: “Olivia, no Brasil temos limites prudenciais para investimentos de fundos de pensão, para evitar concentração de riscos, proteger o participante, tipo, máx. de 4% em ações da patrocinadora, máx. de 80% em renda variável etc., mas nos EUA um empregado pode alocar 100% da poupança dele em ações da empresa onde trabalha, através do 401(k), que é o plano CD corporativo. Se a empresa quebrar, além de perder o emprego, ele perde o futuro, perde a aposentadoria. Por quê isso é permitido”? A resposta veio com um leve sorriso: “Eder, o valor # 1 para o americano é liberdade, cabe ao governo, às empresas, às partes interessadas, educar o participante sobre os riscos de uma decisão dessas, mostrar as consequências, sugerir portfolios eficazes, mas não cabe a ninguém (nem ao escambau), proibir o participante, ele tem que ser livre para decidir.
CONCLUSÃO:
Formei minha visão de cultura estudando Gerard Hendrik Hofstede, um psicólogo social holandês, ex-funcionário da IBM, professor emérito de antropologia organizacional da universidade de Maastricht, falecido em fevereiro de 2020. Geert, como era conhecido, definiu “aversão a incerteza” e “individualismos versus coletivismo” como duas das cinco dimensões culturais e lendo sua teoria dá para entender a razão por trás dos limites prudenciais e do paternalismo do brasileiro. Mesmo assim, mais de ¼ de século depois, aquele choque de realidade ainda me surpreende.
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