Credito de Imagem: Lehrblogger
De São Paulo, SP.
Saquei. Você é conselheiro. Uma nova era se avizinha, com ativos digitais, trabalho remoto, novos contratos de trabalho, mudanças climáticas, novas gerações desafiando uma cultura corporativa ultrapassada, as leis 108 e 109 prestes a mudar e os fundos de pensão precisando de um novo modelo de negócios para sobreviver. Você quer que alguém te diga o que vai acontecer.
“Eder, só me diz para que tipo de organização os fundos de pensão vão evoluir!”
Eu não sei te dizer isso. Eu sei te dizer o que eu faria sobre isso se estivesse na presidência do conselho de um fundo de pensão. Posso te dar diversas perspectivas sobre as transformações do mercado de previdência complementar, sobre o momento e as circunstâncias em que nos encontramos hoje.
“Não é o bastante!”
Ok, entendi. Você quer alguém que saiba de tudo, não alguém que te diga tudo o que sabe.
No final do ano passado, pelo menos três grandes fundos de pensão fizeram contato comigo para falar sobre um possível projeto de apoio em seus planejamentos estratégicos. Estavam discutindo o futuro, como e para onde pivotar seus modelos de negócios, coisa complexa, grande, desafiadora.
Troquei ideia com as pessoas que me telefonaram, mas todas estavam buscando algo mais estruturado. Como não sou nenhuma McKinsey, nenhuma Bain & Company, nenhuma Booz Allen, propus montarmos um grupo de trabalho com o qual compartilharia minhas opiniões e visão de futuro, pensaríamos em conjunto e os desdobramentos desse grande exercício seriam embasados por analises, a partir de dados acessados no mercado por eventuais parceiros externos indicados pelos próprios fundos de pensão.
Nem precisa dizer que não rolou. Com nenhum dos três ¯\_(ツ)_/¯.
Se você quer um expert, cuidado com o que você está buscando
O segmento mais amplo de previdência complementar tem um capital intelectual massivo. Se o conselho deliberativo do seu fundo de pensão procurar com empenho suficiente, encontrará pessoas com as respostas para as questões especificas que está buscando.
O que posso te dizer é que se você estuda sobre previdência complementar por um longo tempo, por tempo suficiente, você de repente adquire conhecimento sobre demografia, biotecnologia, longevidade, geopolítica, macroeconomia, politica monetária, saúde privada, legislação constitucional brasileira, psicologia, neuromarketing, economia comportamental, planejamento financeiro, historia, filosofia, sistema financeiro, regulamentação de seguros, trabalhista, previdenciária, mercado de capitais, governança, investimentos, cryptoeconomia, ciência da computação, TI, atuária e finanças internacionais.
Fica até parecendo que isso acontece simultaneamente, tudo de uma vez só, mas na verdade, no meu caso, foi ocorrendo na proporção da quantidade de artigos sobre previdência complementar que publiquei nas mídias sociais ao longo do tempo, no LinkedIn, no meu blog (esse ultimo completou 13 anos).
Os jovens que estão dando os primeiros passos na jornada em direção a segurança financeira futura, estão fazendo isso através das inovações e opções de investimentos da economia digital. Isso vem acontecendo devido à frustração deles com os chamados experts em previdência complementar tradicional, lotados em entidades abertas e entidades fechadas - os fundos de pensão.
Não seria estranho, então, colocar toda sua fé sobre o futuro da previdência complementar nos chamados especialistas ou experts do setor, que aprenderam somente sobre aquilo que estão falando, o que quer que seja que estejam falando?
E sabe um outro problema? Os experts não concordam uns com os outros, os da previdência aberta dizem uma coisa, os da previdência fechadas dizem outra e quando finalmente eles concordam, geralmente apontam para o caminho errado.
O conselho deliberativo do seu fundo de pensão tem certeza de que quer um expert? Tem certeza de que é isso que precisa?
Eder, você é um expert, não seja hipócrita!
Conhecimento e expertise são coisas diferentes.
Eu adoro compartilhar conhecimento, fiz isso a vida toda! Fiz isso nas empresas por onde passei, sempre dividindo com colegas de trabalho, com superiores e com subordinados, aquilo que aprendi. Fiz isso nos anos que dei aula no MBA de Gestão de Riscos Financeiros e Atuariais na FIPECAFI. Faço isso hoje nos cursos de certificação de conselheiros da UNIABRAPP e essa é a razão para eu escrever artigos como esse aqui, para publicar posts no LinkedIn. Tenho verdadeiro horror à caixa preta.
Infelizmente, eu não tenho expertise em nenhuma das áreas que descrevi acima, exceto aquelas em que tenho formação acadêmica. Na faculdade, estudei matemática com ênfase em ciências atuariais (graduação) e administração profissional (mestrado). Passei +30 anos trabalhando em fundos de pensão, empresas de consultoria atuarial, bancos, seguradoras e atualmente gerencio projetos na área de previdência complementar, assessoro conselhos e atuo como conselheiro profissional.
Conheço alguns assuntos mais do que outros e sobre alguns não conheço absolutamente nada. Não tenho muitos seguidores, nem sou influencer nas mídias sociais.
Mas tenho algo muito mais poderoso do que seguidores e expertise: tenho uma opinião sobre o futuro dos fundos de pensão, da previdência complementar e uma plataforma para compartilhá-la.
Você também tem, todo mundo tem.
Quem sabe melhor sobre o futuro do seu fundo de pensão é você
Na Internet você pode dizer qualquer coisa que você queira e desde que tenha alguém do outro lado, você será ouvido. Você não precisa ser um expert para ter uma opinião valida e um ponto de vista interessante, que pode ser aproveitado.
Algumas vezes é até melhor que você não seja um expert. Algumas das melhores ideias parecem tolas quando são primeiro ventiladas. Alguns dos insights mais interessantes e refinados vem de pessoas que não entendem do assunto.
Enquanto algumas das piores análises e sugestões vem das personalidades mais famosas e bem conhecidas ...
Quando os algoritmos das mídias sociais decidem quem deve ser ouvido e endossado e quem deve ser ignorado, é fácil ver bons insights sendo enterrados sem chance de exposição.
O presidente do conselho é uma espécie de algoritmo do fundo de pensão, se ele não der espaço no colegiado para todas as vozes serem ouvidas, principalmente as dissonantes, vai acontecer o mesmo que o descrito acima.
Geralmente os conselheiros dos fundos de pensão não são experts em previdência complementar, mas a maioria tem um bom conhecimento de vários dos aspetos envolvidos na gestão dos planos.
Se suas opiniões forem expostas, se tiverem oportunidade para somar seu conhecimento ao dos demais conselheiros, um expert poderá até ajudar, mas os caminhos a seguir surgirão, como num passe de magica, do próprio colegiado.
Ainda é muito cedo para dizer
Como é possível ter expertise no futuro dos fundos de pensão, se as soluções de previdência complementar surgirão dentro de uma economia digital que existe praticamente há apenas uma década?
Procurar em 2022 por um expert em futuro dos fundos de pensão é como procurar por um expert em eletricidade em 1892, um expert em aviação em 1908 ou um expert em Internet em 1983.
Ainda assim, é melhor procurar quem tenha algum conhecimento sobre o que deverá vir pela frente do que tentar fazer isso sozinho. Não que você vá encontrar o Mestre Yoda, mas achará quem tenha alguns poucos anos de experiência com uma tecnologia experimental que está evoluindo rapidamente (ativos digitais), pessoas com insights sobre as mudanças sociais trazidas por uma nova geração, outros com visão sobre o futuro do trabalho e mesmo quem consiga antecipar os novos canais e distribuição e os ecossistemas de soluções que incluirão a previdência complementar.
Na pior das hipóteses, você vai encontrar embromadores. Isso significa que você não deva tentar achar pessoas com conhecimento sobre essas coisas? Não, muito pelo contrário. Apenas tenha em mente que em alguns casos, você poderá saber mais do que as pessoas que está buscando.
Conselhos, diretorias, profissionais de fundos de pensão, estamos todos tateando nessa nova era que vai se descortinando, num ambiente em que a legislação vai mudando sem muita clareza de para onde quer nos levar, em que a tecnologia muda o tempo todo, em que alguns dos princípios básicos que criaram os fundos de pensão, como emprego permanente, renda vitalícias e contrato na folha de pagamentos, estão desaparecendo.
Nos fundos de pensão e na previdência complementar, assim como no mundo real, tudo pode mudar num piscar de olhos.
Se você é conselheiro, a questão não é o que você sabe nem sua expertise sobre o futuro dos fundos de pensão, a questão é o que você vai fazer a respeito disso? E essa pergunta, nenhum expert, nem ninguém, pode responder por você ou pelo conselho deliberativo do seu fundo de pensão.
Em tempos de transformação, se você quiser revolucionar o conselho do seu fundo de pensão, busque conhecimento, não expertise, até porque ninguém é especialista em algo que ainda vai acontecer ...
Grande abraço,
Eder.
Fonte: Adaptado do artigo Want to Get Ahead With Crypto? Seek Knowledge Not Expertise, escrito por Mark Helfman.
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